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CLÓVIS ROSSI
O fracasso (da memória)
SÃO PAULO - Se eu lesse os jornais distraidamente, acabaria acreditando que toda a culpa pela nacionalização do gás boliviano é do presidente
Lula e de sua política externa.
Tudo bem, cada um acredita no
duende de sua preferência, mas, para
os que preferem fatos, um modesto
ajuda-memória:
1 - A Petrobras se lançou ao gás boliviano no governo Fernando Henrique Cardoso, não no governo Lula.
Logo, se culpa há (e, nesse caso, acho
que não há), é do governo anterior.
2 - Digamos que, após a vitória de
Evo Morales, na esteira de uma campanha em que prometeu nacionalizar os recursos naturais, a Petrobras
e o governo deveriam ter ficado espertos. Tudo bem, mas o que fazer?
Fechar as torneirinhas, botar o gás
no bolso e voltar para casa? Ou mandar as tropas brasileiras se anteciparem e ocupar as refinarias antes que
as bolivianas o fizessem?
3 - Da mesma forma, achar que Lula alinhou-se demais com Evo e, antes, com o venezuelano Hugo Chávez
é acreditar em duendes. O grande esforço da diplomacia brasileira foi na
construção do que agora se chama
Comunidade Sul-Americana das Nações (desde FHC, aliás, e até antes,
com Sarney e depois Itamar).
Incluía Chávez, claro, mas incluía
também Carlos Mesa, o antecessor de
Evo, e Alejandro Toledo, o agora inimigo de Chávez.
Note-se que o melhor gesto do governo Lula para com a Venezuela foi
ajudar na criação do grupo de amigos daquele país, ao lado dos Estados
Unidos da América, entre outros. Foi
logo no início do governo e ajudou a
evitar uma guerra civil.
Se Chávez se diz amigo de Lula, um
certo George Walker Bush também se
diz. Bush invadiu o Iraque. Culpa do
seu amigo Lula?
4 - O governo FHC deu apoio ao
fracassado processo re-reeleitoral de
Alberto Fujimori, personagem e processo muito mais deletérios para a
democracia do que todas as bobagens e bravatas de Chávez. E ninguém falou nada.
@ - crossi@uol.com.br
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