São Paulo, quinta-feira, 04 de maio de 2006

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CLÓVIS ROSSI

O fracasso (da memória)

SÃO PAULO - Se eu lesse os jornais distraidamente, acabaria acreditando que toda a culpa pela nacionalização do gás boliviano é do presidente Lula e de sua política externa.
Tudo bem, cada um acredita no duende de sua preferência, mas, para os que preferem fatos, um modesto ajuda-memória:
1 - A Petrobras se lançou ao gás boliviano no governo Fernando Henrique Cardoso, não no governo Lula. Logo, se culpa há (e, nesse caso, acho que não há), é do governo anterior.
2 - Digamos que, após a vitória de Evo Morales, na esteira de uma campanha em que prometeu nacionalizar os recursos naturais, a Petrobras e o governo deveriam ter ficado espertos. Tudo bem, mas o que fazer? Fechar as torneirinhas, botar o gás no bolso e voltar para casa? Ou mandar as tropas brasileiras se anteciparem e ocupar as refinarias antes que as bolivianas o fizessem?
3 - Da mesma forma, achar que Lula alinhou-se demais com Evo e, antes, com o venezuelano Hugo Chávez é acreditar em duendes. O grande esforço da diplomacia brasileira foi na construção do que agora se chama Comunidade Sul-Americana das Nações (desde FHC, aliás, e até antes, com Sarney e depois Itamar).
Incluía Chávez, claro, mas incluía também Carlos Mesa, o antecessor de Evo, e Alejandro Toledo, o agora inimigo de Chávez.
Note-se que o melhor gesto do governo Lula para com a Venezuela foi ajudar na criação do grupo de amigos daquele país, ao lado dos Estados Unidos da América, entre outros. Foi logo no início do governo e ajudou a evitar uma guerra civil.
Se Chávez se diz amigo de Lula, um certo George Walker Bush também se diz. Bush invadiu o Iraque. Culpa do seu amigo Lula?
4 - O governo FHC deu apoio ao fracassado processo re-reeleitoral de Alberto Fujimori, personagem e processo muito mais deletérios para a democracia do que todas as bobagens e bravatas de Chávez. E ninguém falou nada.

@ - crossi@uol.com.br


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