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FERNANDO RODRIGUES
Vício de origem no Parlasul
BRASÍLIA - É positivo o Brasil
continuar tentando avançar na integração formal dos países latino-americanos. A criação de um parlamento para o Mercosul é um estágio natural desse processo.
O Parlasul está prestes a se tornar
uma realidade depois do acordo da
semana passada no qual ficou acertada a divisão de suas 99 cadeiras
iniciais. A boa notícia é o Brasil ter
reduzido sua cota prevista de 75 para 37 vagas -menos bocas para o
contribuinte alimentar.
O número seria suficiente não
fosse por um aspecto: com 191 milhões de habitantes (79,2% do Mercosul), o Brasil terá apenas 37% do
poder de voto no Parlasul. Já o Uruguai (1,5% da população do bloco) e
o Paraguai (2,8%) ficarão com 18
vagas cada um. Ou seja, terão relativamente muito mais força de decisão do que o Brasil. A Argentina
(16,6% da população) também saiu
ganhando, com 26 cadeiras.
O senador Aloizio Mercadante
(PT-SP) esteve à frente da negociação das vagas do país. Seus argumentos: 1) ninguém aceitaria a prevalência de um único sócio (Brasil)
por causa do seu tamanho e população; 2) é necessário avançar na integração e haverá compensações até
2014, quando subirá o número de
vagas brasileiras; 3) no Parlamento
Europeu também há distorções,
pois a Alemanha (o mais rico e populoso) aceita dar poder a nações de
menor influência.
O Parlamento Europeu, para começar pelo último argumento, há
anos sofre para se firmar exatamente pela crise de representação.
O Parlasul opta por copiar um modelo defeituoso. Será inviável politicamente retirar mais adiante o
poder hoje concedido a Uruguai e
Paraguai. Assim como é inimaginável o Congresso Nacional eliminar
as (incríveis) oito vagas de deputados federais eleitos por Brasília.
Tal como está sendo concebido,
com um vício de origem insanável,
o Parlasul pode se tornar um organismo inútil. Ou, pior, um pesadelo
para o futuro do Mercosul.
frodriguesbsb@uol.com.br
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