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Caixa-preta
Petrobras tem sido hostil a críticas e fiscalizações, mas a empresa deve dar o exemplo na prestação de contas à sociedade
TÊM SIDO frequentes, nos
últimos meses, indícios
de irregularidades em
obras e licitações sob a
responsabilidade da Petrobras.
A cada problema apontado por
técnicos do Tribunal de Contas
da União ou por policiais federais, o mais poderoso conglomerado do país reluta em esclarecer
dúvidas, critica os métodos dos
órgãos fiscalizadores e, na prática, parece se considerar isento
das responsabilidades e dos deveres impostos a demais empresas e cidadãos do país.
Não bastasse, a estratégia termina por se contrapor, ao que tudo indica, aos próprios interesses financeiros da companhia.
Uma investigação da Polícia
Federal, revelada neste domingo
pela Folha, constatou a formação de "consórcios" entre empreiteiras para superfaturar
obras contratadas pela petrolífera. Os cinco grandes empreendimentos, licitados durante o governo Lula, totalizam R$ 5,88 bilhões. O custo adicional imposto
à empresa pode ter chegado à casa de R$ 1,4 bilhão.
Segundo os técnicos da PF, as
empreiteiras teriam se associado e combinado previamente os
lances vencedores das licitações.
Em pelo menos um dos casos, o
acerto incluiu a divisão posterior
dos ganhos advindos da execução do projeto. Há também indícios de que o próprio processo licitatório, em duas das obras, tenha sido influenciado por uma
das construtoras participantes.
A Petrobras, no entanto, se
apressou a negar a existência de
quaisquer irregularidades nas
obras por ela contratadas.
Havia feito o mesmo quando o
Tribunal de Contas da União, em
relatório anexo ao Orçamento
de 2010, apontara "graves" irregularidades em empreendimentos da petrolífera, parte deles
coincidentes com os atualmente
questionados pela PF.
A estatal alegou haver divergências entre os parâmetros usados pelo TCU para calcular os
valores cabíveis para os contratos e aqueles seguidos pelo seu
próprio corpo técnico.
À época, a Petrobras afirmou
que "colabora sistematicamente
com os órgãos de controle e,
quando há diferenças, procura
esclarecê-las". Não foram poucas as queixas, no entanto, de
técnicos do TCU quanto à "obstrução de fiscalização" por parte
da companhia.
A atitude refratária a críticas e
questionamentos chegou às
raias da arrogância no processo
licitatório para a escolha das novas agências de publicidade da
empresa, no início deste ano.
Mesmo após o vazamento dos
nomes das candidatas mais bem
classificadas numa das etapas da
disputa por uma verba de R$ 250
milhões ao ano, a estatal defendeu a continuidade do processo
-já então posto sob suspeição.
Pressionada, decidiu refazer o
procedimento de escolha.
Os dirigentes da empresa parecem não compreender o real
significado da importância da
Petrobras na economia nacional
e do seu status simbólico para o
país. Tal vulto não lhe confere o
direito de se considerar acima do
bem e do mal, infensa a críticas e
correções de rota. Ao contrário,
é dever do conglomerado, por
seu caráter público, dar o exemplo na prestação de contas à sociedade brasileira.
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