São Paulo, terça-feira, 04 de maio de 2010

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Dono da bola

SÃO PAULO - "Se eu for multado, vou trazer a conta para vocês. Quem é que vai pagar a minha multa? Levanta a mão aí, que eu vou cobrar". Adivinhe quem foi que falou isso? Acertou. Foi "o cara".
Dias antes de brincar desse jeito com o público, no final de março, em Osasco, na Grande São Paulo, Lula já havia sido multado em R$ 5 mil por fazer propaganda antecipada de Dilma Rousseff. Naquele mesmo dia, receberia a notícia de outra multa, desta vez no valor de R$ 10 mil, pela mesma razão.
As multas da Justiça Eleitoral não constrangeram o presidente. Pelo contrário, parecem ter lhe servido como desafio. No mês passado, ele disse que "nós não podemos ficar subordinados a cada eleição a um juiz que diga o que a gente pode ou não pode fazer". Neste fim de semana, no 1º de Maio, voltou a tratar a legislação no registro da galhofa.
A lei eleitoral em vigor tem sérios problemas, é fato. Ela é um convite à hipocrisia quando diz que os candidatos estão proibidos de pedir votos antes das convenções partidárias, em junho. Da data de desincompatibilização, no início de abril, até lá, criou-se um vácuo, como se não existissem campanhas.
Sabemos que Dilma estava atrás de votos quando participou da festa do Dia do Trabalho; sabemos também que Serra não estava exatamente interessado em orar com os evangélicos em Santa Catarina.
Sabemos, portanto, que Lula não é o único político a infringir as leis. Todos fazem ou tentam fazer isso. Mas, sendo quem é, quando zomba das multas ou desafia a competência do juiz, Lula talvez seja o único a mandar descaradamente às favas as regras do jogo. Parece sugerir ao país que as leis são menores, ou valem menos, do que ele próprio.
Lula prestou um grande serviço à democracia quando rejeitou a tentação do terceiro mandato. Os tucanos fizeram o oposto ao inventar o casuísmo da reeleição. Mas Lula presta um desserviço à democracia quando age como se mandasse no jogo só porque é o dono da bola.


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