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ROLAGEM DA DÍVIDA
O elevado nível de endividamento do setor público não representa um risco em si mesmo. O
problema é que a dívida pública brasileira começou a gerar desconfiança
no mercado devido ao seu ritmo de
crescimento e à sua composição.
A relação da dívida líquida do setor
público com o Produto Interno Bruto
(PIB) saltou de 28% para 54,5% de
dezembro de 1994 a abril de 2002. O
Ipea projetou que esse índice vá atingir os 57% em dezembro -praticamente o dobro do que era no início
do governo FHC. A estimativa do
Ipea sinaliza que a dívida pública
continuará aumentando em relação
às riquezas produzidas no país.
Quanto à composição, aproximadamente 80% da dívida pública é pós-fixada, corrigida pela taxa de juros
(51,2%) ou pela taxa de câmbio
(27,8%).
A incerteza política tem introduzido o temor de que o próximo presidente da República possa não honrar
a totalidade da dívida pública. A desconfiança dos investidores tem gerado dificuldades para o Banco Central
rolar o estoque de dívida, sobretudo
da dívida indexada à taxa de câmbio
com vencimento no início do próximo governo. De junho até o fim do
ano, o estoque de títulos cambiais a
ser rolado é de aproximadamente
US$ 18 bilhões (mais de um quarto
do total da dívida cambial no mercado). Diante disso, tem ocorrido uma
redução nos prazos dos títulos emitidos e uma elevação nas taxas de juros
exigidas. O mercado financeiro tem
cobrado 20% ou mais para rolar os
títulos (portanto, acima da taxa de juros básica de 18,5%).
O BC tem pela frente um grande
desafio: reduzir a taxa de juros e simultaneamente evitar uma corrida
para o dólar, uma vez que os investidores possam preferir montar operações de proteção de seus recursos na
própria moeda estrangeira, em detrimento dos papéis cambiais.
Somente o relaxamento da política
monetária, mediante a queda da taxa
de juro real e a expansão do crédito
privado, tornaria possível a redução
do estoque de dívida e a retomada do
crescimento econômico, estabilizando ou contraindo a relação dívida/
PIB, que representa a verdadeira capacidade de solvência de um país. O
raio de manobra do BC vai se estreitando. Se o mercado continuar exigindo prêmios altos para rolar esses
papéis, ficará difícil para o BC promover a redução da taxa nominal em
um prazo curto de tempo.
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