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ROBERTO MANGABEIRA UNGER
A sucessão
em São Paulo
Qualquer paulista que saia
pela rua perguntando o que pensam os eleitores dos pré-candidatos a
governador de São Paulo encontrará
como tônica das respostas a frustração. Como pode nosso maior Estado,
o centro da economia brasileira, uma
das grandes regiões produtivas do
mundo, o lugar a que toda a nação
acorreu em busca de oportunidades,
agora ameaçado na posse daquilo que
sempre lhe foi essencial -condições
para trabalhar- ter de escolher seu
governador entre nulidades malogradas e aproveitadores desacreditados?
Bloqueado no exercício do dinamismo que lhe define a natureza e culpado pelo Brasil por um modelo econômico do qual tem sido a maior vítima,
São Paulo é hoje mais do que nunca o
fulcro do problema brasileiro. Precisa
de rumo e de agente.
O governo de São Paulo não pode
reorientar a economia brasileira. Pode, contudo, conseguir muito com
pouco, graças ao efeito combinado de
iniciativas em três áreas cruciais: emprego, ensino e segurança. São Paulo,
que sempre acreditou na suficiência
da ação privada, precisa hoje de ação
pública para escapar do imobilismo a
que se deixou condenar.
A política de emprego tem de incluir
três elementos. O primeiro, intervenção direta e pontual: obras públicas,
sobretudo na construção de habitações populares, à base da regularização da posse da terra nos loteamentos
irregulares e da parceria com as comunidades, para gerar empregos em
regime de emergência. O segundo, incentivo sistêmico: benefício fiscal para
as empresas, grandes ou pequenas,
que se comprometerem a contratar
empregados menos qualificados e a
trabalhar com o governo para qualificá-los. O terceiro, parceria capacitadora: associação com o Sebrae e com
outras entidades para dar à multidão
de empreendedores emergentes, que
constituem a principal riqueza da economia paulista, meios para ganhar
acesso ao crédito, ao conhecimento, à
tecnologia, aos mercados e, pela cooperação entre os produtores, à escala.
Se não pode mudar a macroeconomia
do país, um governo estadual pode
ajudar a reverter expectativas na microeconomia da produção.
A política de ensino deve concentrar-se em objetivo central e viável, da
alçada do governo do Estado: a generalização da escola média e a multiplicação de escolas médias públicas que
sejam melhores do que as escolas particulares. Retreinar os professores para um ensino capacitador. E ir ao encontro dos alunos mais aplicados ou
talentosos, oferecendo-lhes bolsas de
sustento integral tanto no ciclo secundário quanto no superior. O resultado,
no acalentamento de ambições, seria
imediato.
A política de segurança precisa
avançar em linhas paralelas: na criação de uma polícia inteligente, apoiada em tecnologia e conhecimento, e
na aliança dessa polícia com as comunidades, organizadas e equipadas para vigiar. O crime organizado é desbaratado pela força instruída; o crime
desorganizado, pela vigilância associativa.
São Paulo está cheio de homens e de
mulheres capazes de liderar processo
norteado por essas diretrizes. Só que
ou não são políticos ou não são conhecidos. Como tornar alguns desses desconhecidos conhecidos, transformar
alguns desses não-políticos em políticos e livrar São Paulo de escolher entre
os que nada fazem e os que fazem
qualquer coisa? Usando o jogo partidário e político para desafiar as regras
desse jogo. Alcançando o difícil por
meio do surpreendente.
Criando, quando menos esperado, a
alternativa que falta.
Roberto Mangabeira Unger escreve às
terças-feiras nesta coluna.
www.idj.org.br
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