São Paulo, terça-feira, 04 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PAINEL DO LEITOR

A qualquer custo
"A bola não pegou no meu rosto, mas, sim, nas pernas e na mão. Mas ele chutou a bola contra mim, e isso não é algo que se deva permitir numa partida. Obviamente exagerei para que ele fosse expulso. Ele merecia.' "Você tem de ser um pouco malandro na Copa. O jogador veio me segurando e eu fui levando a bola até dentro da área para cair.' Frases como essas, ditas após o jogo entre Brasil e Turquia por Rivaldo e Luizão, respectivamente, mostram o verdadeiro caráter dos nossos jogadores, que cultuam a malandragem como se fosse uma virtude. Mais triste ainda é que grande parte dos torcedores acha corretas tais atitudes e aplaude a desonestidade. Acham que o que importa é ganhar a qualquer custo."
Juciel dos Reis Maurício (Votuporanga, SP)

"Os senadores, os deputados, o Executivo federal e até mesmo o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) têm de tomar sérias e urgentes medidas contra a ditadura e a exclusividade da "Rede Globo" no futebol. É um absurdo que milhões de pessoas, que, por diversos motivos, não podem assistir aos jogos da Copa de madrugada, fiquem privadas de ver videoteipes à noite apenas porque não possuem TV paga e porque as outras emissoras abertas estão impedidas de retransmitir as partidas. Nem simples imagens ou lances podem ser mostrados devidamente. É inadmissível! Futebol, no Brasil, é cultura popular. E cultura deve ser acessível a todos. Abaixo a ditadura da exclusividade futebolística!"
Paulo Roberto Fernandes de Andrade (São Paulo, SP)

"Como dizem os turcos: "top yuvarlak", "a bola é redonda". A seleção brasileira, com a sua autoconfiança, pensa que só ela sabe jogar futebol. São 32 times selecionados no mundo para a Copa. Não existe time ruim e ninguém aceita ser desconsiderado. Vitória se consegue em campo, com muita garra, amor à camisa, raça, disciplina e bola na rede. Vamos esperar que a nossa seleção tenha tudo isso, senão já era."
Antonio Rochael (Iguape, SP)

Terceiro milênio
"Em 1987, entrevistei o escritor Caio Fernando Abreu e, cansado de ouvir que "o Brasil é o país do futuro", fiz-lhe uma pergunta sobre isso. Sua resposta foi categórica: "O terceiro milênio é nosso e ninguém tasca". Com o transcorrer do tempo, passei a fazer uso dessa frase, porém retirando o seu sentido socioeconômico e dando-lhe outro, deixando-a assim: "O terceiro milênio é dos gays e ninguém tasca". Com a 6ª Parada do Orgulho Gay, que aconteceu domingo em São Paulo, reuniu mais de 400 mil pessoas e resultou em algo jamais visto neste país em termos de manifestação pública, refleti mais sobre a frase citada acima. No curto espaço de quatro anos, a parada paulistana vem deixando para trás (tanto pelo número de participantes quanto pelo clima de paz que reina) a de Paris e a de São Francisco. E, em no máximo duas décadas, quando alguém ficar sabendo que o filho de outrem irá casar, fará uma pergunta corriqueira, normalíssima: "Com menino ou com menina?' Acho que o terceiro milênio é nosso mesmo, em todos os sentidos."
Nelson Bertoni Garcia (Bady Bassitt, SP)

Violência
"Com relação à carta do leitor André Kenji de Sousa, de Itatiba (SP), publicada na seção "Painel do Leitor" em 3/6, gostaríamos de prestar os seguintes esclarecimentos. A polícia tem a incumbência de combater atos criminosos e de adotar formas de prevenção que incluem policiamento ostensivo e eventuais blitze de repressão à criminalidade em todas as regiões do Estado consideradas potencialmente perigosas. Desde que foram iniciadas, em trabalho conjunto das polícias Civil e Militar, essas operações têm obtido resultados positivos, como a recuperação de veículos roubados, a apreensão de armas e drogas, a recaptura de presos fugitivos e a detenção de criminosos com mandado de prisão expedido pela Justiça, além de localizar locais usados como cativeiros por sequestradores. Especificamente em Campinas, foi a ação da polícia durante uma blitz que levou à prisão de Edmir Roque Júnior, tio de Wanderson Nilton de Lima, o Andinho, sequestrador mais procurado da região. Além da blitz, os policiais envolvidos na ação procuram realizar um trabalho de aproximação com os moradores de bairros periféricos e de favelas com alto índice de violência, destacando a importância da colaboração da população no combate ao crime por meio do Disque-Denúncia. Essa colaboração tem-se mostrado valiosa para a polícia, pois, em menos de dois anos de implantação, esse serviço já ajudou a resolver mais de mil casos e a desencadear 22 mil investigações e ações policiais. O objetivo dessas blitze, que continuarão sendo realizadas enquanto se fizerem necessárias, é diminuir os índices de criminalidade e aumentar a confiança da população no trabalho desenvolvido pelos responsáveis pela segurança no Estado de São Paulo."
Carlos Alberto da Silva, assessor de comunicação social da Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (São Paulo, SP)

Orgulho paulista
"Contaram-me -mas não creio- que Rômulo e Remo, depois de mamarem nas tetas da loba italiana, escorraçaram-na a pontapés. Aqui, chutam São Paulo diariamente. O paulistano Serra diz no Rio que "São Paulo é província". Ciro Gomes, de Pindamonhangaba (SP), arvora-se em lídimo representante das oligarquias nordestinas. Lula, de Garanhuns (PE), tem orgulho de suas origens. FHC alardeia ser carioca de nascimento enquanto Garotinho só agora ensaia os primeiros passos fora do seu eleitoralmente limitado Rio de Janeiro, pondo as manguinhas de fora. Aécio é de Minas, Ramez, de Mato Grosso do Sul. Haverá alguém orgulhoso de ser paulista? Talvez Enéas, quem sabe?"
Renato Bello (Campinas, SP)

Igreja e propriedade
"O dr. Francesco Scavolini ("As víboras e os sepulcros caiados", "Tendências/Debates", 3/6) continua em sua arte de manipular as palavras do papa para referendar as idéias do grupo social que defende. Se prestasse mais atenção a tudo o que João Paulo 2º escreve e fala, e não apenas àquilo que lhe interessa pinçar, veria qual é a posição definitiva do santo padre e da igreja quando falam de propriedade privada, posição exposta com límpida clareza no número 43 da encíclica "Centesimus Annus", de 1991: "A posse dos meios de produção, tanto no campo industrial como no agrícola, é justa e legítima se serve para um trabalho útil. Pelo contrário, torna-se ilegítima quando não é valorizada ou serve para impedir o trabalho dos outros para obter um ganho que não provém da expansão global do trabalho humano e da riqueza social, mas antes da sua repressão, da ilícita exploração, da especulação e da ruptura da solidariedade no mundo do trabalho. Semelhante propriedade não tem nenhuma justificação e constitui um abuso diante de Deus e dos homens"."
Pedro Afonso Gomes (São Paulo, SP)



Texto Anterior: Luiz Gonzaga Bertelli: A vergonha do analfabetismo
Próximo Texto: Erramos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.