São Paulo, terça-feira, 04 de junho de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A vergonha do analfabetismo
LUIZ GONZAGA BERTELLI
Nos idos de 40, na gestão do ministro da Educação Gustavo Capanema, foi instituído o Fundo para o Desenvolvimento do Ensino Primário, reservando 25% de todas as suas verbas orçamentárias para a alfabetização de adultos. Cinco anos após, em 1947, era instituída a Campanha da Alfabetização de Adolescentes e Adultos. Em 20 anos, de 1940 a 60, a percentagem de analfabetos decrescera de 56% para 40%, o que foi considerado um resultado favorável. Mais tarde, presidido pelo ex-ministro Mário Henrique Simonsen, era criado o Mobral, com a ambiciosa meta de alfabetizar 11,4 milhões de adultos até 1971, objetivando a eliminação total do analfabetismo em 1975. As estatísticas oficiais indicam terem sido alfabetizados 11,2 milhões de pessoas. Esses dados têm sido questionados por outras agências governamentais. Começava, novamente, a escalada do futuro. Em cerca de um triênio, foram concentrados esforços para alfabetizar 5 milhões de adultos (acima dos 15 anos de idade). O movimento foi encerrado em 1985, com a transferência da responsabilidade da alfabetização para as prefeituras. A Constituição de 1988 previa que o Brasil não teria mais analfabetos em 1998. Em 96 foi instituído o Comunidade Solidária, presidido pela professora Ruth Cardoso. A sua atuação está restrita às regiões Norte e Nordeste, em parcerias com as universidades e empresas, que fornecem recursos financeiros e humanos. Mais de 10 milhões de analfabetos vivem nessas áreas. O fim do analfabetismo no Brasil custará cerca de R$ 3,5 bilhões, segundo a previsão do Comunidade Solidária, que gasta R$ 34 mensais a fim de ensinar uma pessoa a ler num prazo de seis meses. Inquestionavelmente, o futuro brasileiro está na alfabetização. Existe um enorme desafio para nos redimirmos dos erros do passado, investindo na mobilização da consciência nacional. Governo, empresários e educadores devem ser, portanto, agentes dessa grande obra. O investimento na educação, conforme recente estudo da FGV, é a saída mais adequada para melhorar as condições de vida da população brasileira. A cada ano adicional de estudo, a renda do trabalho aumenta, em média, 16% ao longo da vida. Isto é, se a renda de um analfabeto é de R$ 100, será de R$ 116 se esse analfabeto acumular um ano de estudo e assim por diante, explica o economista Marcelo Neri. As elevadas taxas do "analfabetismo" e a baixa escolaridade têm impacto direto na qualidade de vida dos brasileiros. Vamos convocar, portanto, as entidades de classe, os clubes de serviço, as Forças Armadas, as igrejas, a imprensa e as entidades filantrópicas. Façamos salas de aula rústicas, sem luxo, de madeira, à sombra das árvores, nos salões de festas dos clubes e dos condomínios. E façamos isso com urgência, determinação, patriotismo e amor. Somente dessa forma iniciaremos a verdadeira erradicação do analfabetismo no Brasil. Luiz Gonzaga Bertelli, 67, é diretor da Federação e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp/Ciesp) e da Associação Comercial de São Paulo e presidente-executivo do Ciee (Centro de Integração Empresa-Escola). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Manuela Carneiro da Cunha: Os índios na agenda da Rio+10 Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
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