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ANTONIO DELFIM NETTO
A missão de Meirelles
O controle da taxa de inflação
de um país pela manipulação da
taxa básica de juro nominal definida
pelo Banco Central é produto de um
longo aperfeiçoamento da política
monetária e se baseia em alguns resultados teóricos comprovados de forma
robusta pela pesquisa empírica dos últimos 50 anos.
Item nš 1 - Existe uma relação muito
forte entre a taxa de crescimento da
oferta de moeda e a taxa de inflação a
longo prazo. Para entender a proposição, é preciso reconhecer que "a longo
prazo" todos os efeitos não-monetários se esgotam e o que sobra é o efeito
"puro" sobre os preços do aumento
do estoque monetário que não deixa
nenhum resíduo de crescimento ou
no emprego. Tudo se passa como se tivesse havido apenas uma mudança na
unidade de conta. Quando se transformam mil cruzados em um cruzado
novo, nenhum preço relativo se modifica: apenas todos os preços de referência são divididos por mil. A longo
prazo, quando todos os obstáculos ao
ajuste são eliminados, verifica-se que
as variações do estoque de moeda afetam apenas a taxa de inflação: não sobra nenhum efeito de longo prazo sobre o crescimento e o emprego. A longo prazo (que é o que interessa para o
crescimento do PIB e do emprego), as
variações da oferta de moeda são neutras;
Item nš 2 - A longo prazo, a taxa de
juro real depende da preferência intertemporal dos agentes econômicos que
decidem o que desejam consumir no
presente e no futuro e da taxa de retorno físico da economia. A política monetária, para ser neutra, tem de procurar estabelecer uma taxa de juro real
(taxa de juro nominal descontada da
expectativa de inflação) que seja igual
à taxa de juro real exigida pelo equilíbrio do sistema econômico no pleno
emprego;
Item nš 3 - Como a longo prazo a política monetária não tem efeito sobre
as variáveis reais da economia, seu objetivo deve restringir-se a produzir a
maior estabilidade possível da taxa de
inflação em níveis parecidos com as
taxas dos parceiros internacionais;
Item nš 4 - O problema é que, a curto
prazo, a política monetária, isto é, a
manipulação da taxa de juros nominais (e as consequentes variações da
liquidez da economia) tem efeitos sobre o nível de atividade porque há rigidez natural das variáveis reais. O que
empiricamente se sabe é que esses
efeitos não são contemporâneos: eles
atingem o PIB num período variável
(em torno de um ano) e, depois, a taxa
de inflação (em torno de dois anos). A
defasagem se deve ao fato de que é demorada a transmissão da variação da
taxa de juros nominal de curto prazo,
para a taxa de juro real de longo prazo
que é a que modifica as disposições de
consumir e investir.
A taxa de inflação anual do Brasil
medida pelo IPCA manteve-se entre
6% e 7% de janeiro de 2001 a agosto de
2002, mas desandou no final do governo FHC. Em dezembro, chegou a 13%.
A despeito dos dois aumentos de juros
no governo Lula, ela hoje anda em torno de 17%, com expectativa declinante. O mercado espera para maio de
2004 uma taxa de 8,5%, que é a meta
intermediária estabelecida para dezembro de 2003.
Dadas as defasagens registradas no
Item nš 4, acima, o doutor Meirelles
tem uma missão quase impossível...
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br
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