São Paulo, domingo, 04 de junho de 2006

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Partidos em crise

A sensação de quem olha a situação das duas legendas que renovaram a representação política no Brasil é de desalento

NÃO HÁ registro de um processo eleitoral, no ciclo recente de democratização, em que o papel dos partidos enquanto vetores da representação popular tenha estado tão apagado e relegado a segundo plano como agora. O descrédito no PT e a sua desarticulação só fizeram crescer com os escândalos de corrupção dos últimos meses; falta ação coletiva da parte de destacadas lideranças tucanas; não há sinal de renovação na vida partidária.
À diferença do que ocorreu em muitos países latino-americanos, o Brasil não passou por nenhuma crise institucional ligada à insuficiência de representação dos partidos nas últimas duas décadas. Aqui a vida partidária foi se renovando em relação à que prevalecia durante o regime militar, mas num processo paulatino e sem traumas, que contribuiu para fortalecer e prestigiar as instituições democráticas.
O impeachment de Fernando Collor de Mello e o advento do Plano Real, sob os auspícios do então ministro Fernando Henrique Cardoso, redundaram na emancipação do PSDB -criado em 1988, a partir de dissidência do PMDB- como um dos principais partidos brasileiros.
Enquanto FHC era eleito e reeleito, o PT aumentava a sua presença em prefeituras, governos estaduais e no Legislativo. O ano de 2002 coroou a trajetória petista com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. No mesmo ano, o PSDB lograva conquistar o governo de Minas Gerais e manter o de São Paulo -os dois principais colégios eleitorais do país.
Quatro anos depois, a sensação de quem olha a situação dos dois partidos que renovaram a representação política no Brasil é de desalento. Os escândalos do mensalão e do caseiro Francenildo Costa destruíram a cúpula do PT e derrubaram ou enfraqueceram as principais lideranças petistas no governo. Restou o emblema de Lula -candidato cada vez mais de si mesmo-, a adesão a um getulismo vulgar, a um messianismo que prescinde de organizações partidárias e discussões programáticas.
Apenas 1% dos eleitores que declararam intenção de votar em Lula, de acordo com o Datafolha mais recente, justifica sua preferência pelo fato de ele ser do PT. O bom desempenho do presidente nas pesquisas não se traduz em boas perspectivas para o seu partido nos pleitos estaduais.
Do lado tucano, a desagregação tem outra causa: a baixa capacidade da legenda de atuar como corpo coletivo na campanha ao Planalto. De olho em 2010 -e diante do desempenho modesto de seu candidato nas pesquisas até agora-, luminares do partido não prestigiam a candidatura de Geraldo Alckmin, contribuindo para fragmentar a sigla.
Se o refluxo de PT e PSDB como instâncias de representação popular viesse seguido da emergência de uma outra sigla, não haveria motivo para preocupação. O PFL, porém, tem dificuldade enorme para alçar vôo solo na política nacional, e o PMDB está mais desorientado do que nunca. É triste constatá-lo, mas a democracia brasileira ameaça, nesse quesito, dar um passo atrás nas eleições de outubro.


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