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CLÓVIS ROSSI
Brincadeira besta
SÃO PAULO - Luiz Inácio Lula da
Silva não é apenas a metamorfose
ambulante, como se autodefiniu,
mas também a contradição itinerante, de que dão prova as suas declarações na Guatemala sobre mais
de uma reeleição.
Primeiro, o presidente repete o
que já disse várias vezes: não quer a
re-reeleição porque não brinca com
a democracia.
Ainda se dá ao luxo de ser explícito no formato que tomaria a "brincadeira", se levada avante: "Alguém
que quer o terceiro mandato pode
querer o quarto, pode querer o
quinto, pode querer o sexto".
Bingo. Perfeito. Por que diabos,
então, Lula acha que seus amigos
Álvaro Uribe (Colômbia) e Hugo
Chávez (Venezuela) podem querer
brincar com a democracia?
Alguém precisa ensinar o presidente, que aprende fácil, que há
uma colossal diferença entre o parlamentarismo europeu, que permite reeleições sucessivas, e o presidencialismo praticado na América
Latina.
Por estas bandas, o regime é imperial. Não valem ou não funcionam os "checks and balances" (pesos e contrapesos, em tradução livre) de que se orgulham por exemplo os Estados Unidos.
No parlamentarismo, quem governa é o Parlamento, como aliás o
nome indica. Por estas bandas, os
Congressos são invariavelmente
uma caricatura de poder, que não
pode nada, submetido aos desígnios
do todo poderoso Executivo.
No parlamentarismo, chefes de
governo são destituídos sem dor,
pelo voto de desconfiança. Às vezes,
burocraticamente, como aconteceu
com Margaret Thatcher, trocada
como líder dos conservadores e,
portanto, como primeira-ministra.
No presidencialismo, é inescapável
um doloroso processo de "impeachment".
Por estas bandas, reeleições indefinidas geram caudilhos nada brincalhões -e caudilhismo nunca termina bem.
crossi@uol.com.br
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