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Mundo atômico
Acordo de revisão do Tratado de Não Proliferação mantém conquistas, mas não contribui para a redução dos arsenais
Quase nada mudará na diplomacia internacional com o acordo
alcançado, na semana passada,
pelos 189 países-membros do Tratado de Não Proliferação Nuclear.
O arcabouço normativo que busca
impedir corridas armamentistas
atômicas no mundo continua, em
essência, o mesmo. Mas não deixa
de haver, nesse fato, motivo para
um moderado otimismo.
Uma declaração conjunta foi
obtida, afinal. Há cinco anos, na
última reunião de revisão do TNP,
discordâncias entre os signatários
do documento haviam impedido a
redação de um texto final que todos aceitassem. Um novo fracasso
desgastaria ainda mais o tratado.
E importa fortalecê-lo.
Concebido no auge da Guerra
Fria, o acordo é vulnerável a críticas, por "congelar" a divisão vigente, à época, entre as potências
detentoras de armas nucleares e
os demais países, que renunciariam a essa tecnologia militar.
Ainda assim, o documento conseguiu criar instrumentos de vigilância compartilhada entre seus
membros que ajudaram a conter
uma escalada nuclear, o que não
deixa de ser do interesse da grande maioria dos países. Investir na
fabricação de artefatos atômicos
consome recursos vultosos, estimula iniciativas semelhantes em
nações vizinhas e termina por alimentar uma espiral de gastos e insegurança.
Mais de 40 anos depois da entrada em vigor do TNP, apenas nove países -três deles não signatários do acordo- possuem bombas
atômicas. É razoável supor que o
número poderia ser maior, não
fossem pelos incentivos criados
pelo tratado para o abandono do
uso de energia nuclear com objetivos militares.
A continuidade do status quo
atômico, resultante do acordo alcançado em Nova York, há uma
semana, também significa o adiamento, para um futuro distante,
de um mundo livre da bomba. Tal
cenário, anunciado como desejável pelo presidente dos EUA, Barack Obama, ainda não deixou o
plano da retórica.
Instadas a se comprometer com
um gradual desarmamento, as potências atômicas não se submeteram a metas ou cronograma específico. Aceitaram apenas relatar os
progressos obtidos na desativação
de arsenais até 2014, um ano antes
da próxima reunião de signatários
para revisão do TNP.
Continua a depender de pressões e esforços diplomáticos -como os que se observam no caso do
Irã- a tentativa de impedir novas
investidas militares no terreno nuclear e, ao mesmo tempo, garantir
o direito de exploração da tecnologia para fins pacíficos.
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