São Paulo, sexta-feira, 04 de junho de 2010

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Editoriais

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Drama nas ruas

Por encomenda da Secretaria Municipal de Assistência Social, a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) realizou um censo da população de rua de São Paulo. Os resultados inspiram apreensão e clamam por ações mais firmes do poder público.
Trata-se, sem dúvida, de um drama social complexo, diante do qual as respostas simples (como a construção de mais albergues, por exemplo) não são suficientes.
O estudo da Fipe mostrou que, nos últimos dez anos, cresceu 57% o número de pessoas que vivem em situação de moradores de rua. Eram 8.706 em 2000, agora são 13.666. Diante do gigantismo da metrópole, é um dado que pode causar pouco impacto. Mas vale lembrar que esse é um contingente superior à população de mais de 300 municípios do Estado.
Dessas pessoas, 51,8% (ou 7.079) dizem passar a noite em albergues, enquanto 48,2% (6.587) dormem ao relento. Em 2000, embora a população de rua fosse bem menor, a parcela dos que passavam a noite nas ruas era, proporcionalmente, maior: 54,3%.
Existem hoje 8.200 vagas em 41 albergues municipais. A prefeitura promete mais 1.200 até o final do ano. Mesmo que essa não seja "a" solução, será um avanço, sobretudo se lembramos que essa mesma gestão fechou abrigos na região central da cidade. É ali que se concentram os moradores de rua. Só os distritos da República, da Sé e de Santa Cecília reúnem hoje mais de 3.000 deles.
Esta Folha noticiou que moradores e comerciantes de Santa Cecília, reunidos na semana passada, decidiram agir para que ONGs e restaurantes da região deixem de doar comida aos sem-teto. É uma atitude que terá parecido chocante a muita gente. Deve-se, porém, tomar esse gesto como um sintoma do agravamento do problema e da necessidade de enfrentá-lo de maneira eficaz e urgente.
Sem hipocrisia, diante dos moradores de rua, as pessoas costumam ter reações misturadas -elas podem ir da compaixão à repulsa, passando pela indiferença. Dissolução de vínculos familiares, alcoolismo, desemprego, saúde física e psíquica afetadas, há um conjunto de carências a ser entendido e atendido quando se lida com os sem-teto.
A droga, em especial o crack, agravou o drama. Registrou-se na década um aumento de quase 8% da população jovem que vive nas ruas. É mais um sinal de que a cidade precisa investir em políticas sociais combinadas e mais inteligentes se de fato quiser atenuar os contornos dessa tragédia.


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