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Drama nas ruas
Por encomenda da Secretaria
Municipal de Assistência Social, a
Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) realizou um
censo da população de rua de São
Paulo. Os resultados inspiram
apreensão e clamam por ações
mais firmes do poder público.
Trata-se, sem dúvida, de um
drama social complexo, diante do
qual as respostas simples (como a
construção de mais albergues, por
exemplo) não são suficientes.
O estudo da Fipe mostrou que,
nos últimos dez anos, cresceu 57%
o número de pessoas que vivem
em situação de moradores de rua.
Eram 8.706 em 2000, agora são
13.666. Diante do gigantismo da
metrópole, é um dado que pode
causar pouco impacto. Mas vale
lembrar que esse é um contingente superior à população de mais de
300 municípios do Estado.
Dessas pessoas, 51,8% (ou
7.079) dizem passar a noite em albergues, enquanto 48,2% (6.587)
dormem ao relento. Em 2000, embora a população de rua fosse bem
menor, a parcela dos que passavam a noite nas ruas era, proporcionalmente, maior: 54,3%.
Existem hoje 8.200 vagas em 41
albergues municipais. A prefeitura promete mais 1.200 até o final
do ano. Mesmo que essa não seja
"a" solução, será um avanço, sobretudo se lembramos que essa
mesma gestão fechou abrigos na
região central da cidade. É ali que
se concentram os moradores de
rua. Só os distritos da República,
da Sé e de Santa Cecília reúnem
hoje mais de 3.000 deles.
Esta Folha noticiou que moradores e comerciantes de Santa Cecília, reunidos na semana passada, decidiram agir para que ONGs
e restaurantes da região deixem
de doar comida aos sem-teto. É
uma atitude que terá parecido
chocante a muita gente. Deve-se,
porém, tomar esse gesto como um
sintoma do agravamento do problema e da necessidade de enfrentá-lo de maneira eficaz e urgente.
Sem hipocrisia, diante dos moradores de rua, as pessoas costumam ter reações misturadas
-elas podem ir da compaixão à
repulsa, passando pela indiferença. Dissolução de vínculos familiares, alcoolismo, desemprego,
saúde física e psíquica afetadas,
há um conjunto de carências a ser
entendido e atendido quando se
lida com os sem-teto.
A droga, em especial o crack,
agravou o drama. Registrou-se na
década um aumento de quase 8%
da população jovem que vive nas
ruas. É mais um sinal de que a cidade precisa investir em políticas
sociais combinadas e mais inteligentes se de fato quiser atenuar os
contornos dessa tragédia.
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