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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Imposturômetro
SÃO PAULO - Seria o caso de pensar no Imposturômetro. Sim, um
medidor da impostura. Muito útil
para o período eleitoral. A primeira
vítima do Imposturômetro poderia
ser José Serra. Anteontem, ele visitava o Impostômetro -o famoso
termômetro dos impostos que a Associação Comercial de São Paulo
mantém no centro da cidade.
Ali, ao lado de Orestes Quércia,
apresentado por Afif Domingos ao
painel luminoso que traduzia o
"apetite voraz" do Estado, Serra parecia um personagem deslocado.
Um pouco, talvez, como Woody
Allen, que tantas vezes surge como
intruso em seus próprios filmes.
A bandeira anti-impostos pode
ser atraente para setores conservadores da classe média, mas não comove o tucano. Basta lembrar que
ele brigou com seu próprio partido
para preservar a CPMF.
Serra dá às vezes a impressão de
estar fazendo uma pré-campanha
mais direitosa do que desejaria. Outras vezes, como na declaração a
respeito da autonomia do BC, parece fazer questão de se pôr à esquerda do lulo-petismo.
Convicção, escorregões e conveniências -tudo se mistura numa
espécie de coquetel, em que o candidato ainda parece experimentar
os ingredientes para encontrar o
seu próprio sabor.
Não é mesmo fácil o mix entre a
concessão ao licor liberal do "afifismo" e a admiração sincera que ele
tem pela Sudene de Celso Furtado.
Uma coisa é certa: equilibrando-se
à direita ou à esquerda, Serra está
mais azedo e apimentado. Mais "ele
mesmo", talvez.
O tucano entrou na campanha
com ares de estadista. Sua altivez
miniaturizava a adversária neófita.
Agora acusou Dilma de estar por
trás de um dossiê que ninguém viu.
Passo em falso? A subida rápida e
consistente da petista o obrigou a
mudar. Deve agir "como candidato", precipitando o confronto que
antes interessava adiar. Serra precisa arrancar Dilma da sombra protetora de Lula. Fica mais exposto ao
Imposturômetro.
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