São Paulo, sexta-feira, 04 de junho de 2010

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RUY CASTRO

Mensagens arcaicas

RIO DE JANEIRO - "No momento, não podemos atender", disse a secretária eletrônica. "Para enviar um fax, favor apertar a tecla tal" -e seguiu-se o coro de passarinhos trilando em uníssono, típico do fax. Mas quem ainda usa fax? O último que tive doei para caridade lá se vão uns dez anos -por falta de gente a quem passar mensagens através dele. E, quando podia jurar que os faxes estavam tão extintos quanto os pterodáctilos, defrontei-me há pouco com uma secretônica dizendo a mensagem acima.
Da mesma forma, no teatro, ainda se costuma ouvir antes do início da peça: "Por favor, desliguem seus celulares e pagers". Pagers? Não era aquela engenhoca que o indivíduo levava no bolso e que fazia bip para indicar que alguém estava telefonando para ele? E, para saber de quem se tratava, o cidadão tinha de achar um orelhão, ligar para uma central de chamadas, anotar o número e só então telefonar para o dito número? Sim. Mas isso não era nos remotos anos 80?
Outro enigma é a frase que uma voz pré-gravada repete toda vez que o avião toca o solo de uma cidade: "Observem as regras locais quanto ao uso do telefone celular". Bem, primeiro, não sabia que cada cidade tinha regras sobre isso. E, se é que tem, onde estão elas? Haverá avisos impressos nos aeroportos? Ou uma funcionária, atrás de um balcãozinho, com as regras na ponta da língua?
Por sorte, nada disso interfere no meu dia a dia. Dispensei há séculos o fax, nunca tive pager e passo maravilhosamente sem celular. Em matéria de tecnologia, eu é que sou o pterodáctilo. O que me espanta é ver que essas mensagens podem ser consideradas ainda mais arcaicas do que eu.
Não, isso é impossível. Quando na rua, nunca fui fã sequer do orelhão. Gostava era de entrar no botequim, tomar um café, pedir ao português para telefonar e deixar um troco a mais no balcão.


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