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RUY CASTRO
Mensagens arcaicas
RIO DE JANEIRO - "No momento,
não podemos atender", disse a secretária eletrônica. "Para enviar um
fax, favor apertar a tecla tal" -e seguiu-se o coro de passarinhos trilando em uníssono, típico do fax.
Mas quem ainda usa fax? O último
que tive doei para caridade lá se vão
uns dez anos -por falta de gente a
quem passar mensagens através
dele. E, quando podia jurar que os
faxes estavam tão extintos quanto
os pterodáctilos, defrontei-me há
pouco com uma secretônica dizendo a mensagem acima.
Da mesma forma, no teatro, ainda se costuma ouvir antes do início
da peça: "Por favor, desliguem seus
celulares e pagers". Pagers? Não
era aquela engenhoca que o indivíduo levava no bolso e que fazia bip
para indicar que alguém estava telefonando para ele? E, para saber
de quem se tratava, o cidadão tinha
de achar um orelhão, ligar para
uma central de chamadas, anotar o
número e só então telefonar para o
dito número? Sim. Mas isso não era
nos remotos anos 80?
Outro enigma é a frase que uma
voz pré-gravada repete toda vez
que o avião toca o solo de uma cidade: "Observem as regras locais
quanto ao uso do telefone celular".
Bem, primeiro, não sabia que cada
cidade tinha regras sobre isso. E, se
é que tem, onde estão elas? Haverá
avisos impressos nos aeroportos?
Ou uma funcionária, atrás de um
balcãozinho, com as regras na ponta da língua?
Por sorte, nada disso interfere no
meu dia a dia. Dispensei há séculos
o fax, nunca tive pager e passo maravilhosamente sem celular. Em
matéria de tecnologia, eu é que sou
o pterodáctilo. O que me espanta é
ver que essas mensagens podem
ser consideradas ainda mais arcaicas do que eu.
Não, isso é impossível. Quando
na rua, nunca fui fã sequer do orelhão. Gostava era de entrar no botequim, tomar um café, pedir ao português para telefonar e deixar um
troco a mais no balcão.
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