São Paulo, sábado, 04 de junho de 2011

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Família Soprano

SÃO PAULO - Não é muito comum que um partido aliado do governo use seu programa de TV para fazer ameaças veladas ao (ou à) presidente. Menos comum ainda quando esse partido ocupa a Vice-Presidência. O PMDB não só fez isso anteontem à noite, em cadeia nacional de TV, como colocou Lula no ar para elogiar o grande aliado.
Com o depoimento generoso do "ex", mais presente do que nunca, e nenhuma imagem de Dilma, a intenção foi clara: demonstrar força e constranger a presidente. Endereçados ao Planalto, saltavam da tela os recadinhos do PMDB: "Ser grande é ser grato"; "quem ganha junto governa junto"; "no regime democrático, tamanho é documento".
Isso, uma semana depois que Dilma mandou Palocci fazer o telefonema desastrado a Michel Temer, ameaçando-o com a demissão dos ministros se o PMDB roesse a corda na votação do Código Florestal.
A presença de Lula no programa soou também como um recado dele próprio à sucessora. Como se dissesse: "Olha, Dilminha, esses são os seus parceiros de carteado. Goste deles ou não, você vai ter que sentar e jogar. Fique esperta".
Mas a graça do programa está ligada ao seu formato. O PMDB decidiu gravar ao ar livre, num imenso jardim com um lago bem azul ao fundo, provavelmente o Paranoá.
Nesse cenário idílico -que poderia ser tanto a mansão de Palocci como um resort-, iam surgindo, sucessivamente, os figurões do partido, de Sarney a Temer, passando por Valdir Raupp, Renan Calheiros, Edison Lobão, Garibaldi Alves, Eunício Oliveira, Henrique Eduardo Alves...
Entre cabelos pintados de acaju e bigodes tingidos, assistimos a um desfile de canastrões a serviço do Brasil. Fossem bons atores, alguém poderia até confundi-los com os personagens da Família Soprano.

 

Palocci não revelou quanto ganhou, não disse para quem trabalhou nem que tipo de serviço fazia. Sem nada explicar, deve cair.


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