São Paulo, Sexta-feira, 04 de Junho de 1999
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EUA sem embaixador

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA

Brasília - Faz um ano que os EUA estão sem embaixador no Brasil, que não é o único país em situação similar. A Argentina vai para dois anos sem representante americano.
A anomalia revela o grau de fragilidade política a que chegou o governo Clinton, incapaz de obter no Congresso aprovação para propostas corriqueiras da administração federal.
Também demonstra que o presidente dos EUA foi incapaz de superar uma dificuldade que o acompanha desde que chegou à Casa Branca, em 1993: escolher pessoas certas para cargos que dependem de aprovação do Senado para serem preenchidos.
Brian Atwood, que Clinton tentava mandar para Brasília, é caso emblemático dessa incapacidade, que se revelou em diversas nomeações, inclusive para funções de nível ministerial.
Diretor da Usaid, agência do governo dos EUA para ajuda externa (a mesma do acordo MEC-Usaid, demonizado por muitos dos atuais habitantes da Esplanada dos Ministérios nos anos 60), Atwood era uma boa indicação para a embaixada em Brasília.
Mas qualquer iniciante em política norte-americana sabia que suas chances de aprovação no Senado eram nulas por causa dos atritos que tivera com o poderoso presidente da sua Comissão de Relações Exteriores, o arquiconservador Jesse Helms.
No melhor estilo de cacique parlamentar, Helms engavetou a indicação de Atwood até ele abrir mão dela.
Há quem acredite que o Brasil ficará sem embaixador dos EUA até o fim do mandato de Clinton (janeiro de 2001).
Mas o presidente norte-americano pode, se quiser e for hábil, mostrar que seu governo não vai alienar o mais importante parceiro dos EUA no hemisfério por período tão longo.
Ele dispõe de nomes que nem Helms ousaria barrar, não por serem inexpressivos (o que ofenderia o Brasil), mas por terem grande densidade.
Um intelectual de peso (Albert Fishlow?), um cientista renomado (Thomas Lovejoy?), um político aposentado de renome poderiam resolver o impasse, com vantagens para todos.


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