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ROBERTO MANGABEIRA UNGER
Democracia
e alternativa
QUEM DESEJA continuação
do rumo atual do país, ainda
que com maior eficiência no
gasto público e compromisso mais
forte com a educação, não quer ouvir falar em aprofundamento da
democracia ou mobilização popular. Seriam desculpas para autoritarismo chavista.
Quem rejeita o
receituário econômico e social dos
últimos 25 anos propõe enriquecer
a democracia representativa no
Brasil com instituições que dêem
alento ao impulso antioligárquico e
que fortaleçam o potencial transformador da política. (Triste entre
tantas tristezas é ver o partido de
Leonel Brizola, paladino incansável da segunda diretriz contra a primeira, adotar o discurso do medo e
da provocação direitistas, como
sempre a serviço da defesa do modelo econômico.) Não há, entre
nós, agora, divisão mais funda e reveladora do que essa.
Para compreendê-la melhor, veja-se a situação de um presidente
brasileiro que, eleito para reorientar a trajetória nacional, queira
honrar seu compromisso. Se ele se
restringir a negociar com os grandes interesses organizados no Congresso e no empresariado, vira refém deles. Se ele apelar para as
maiorias desorganizadas dos trabalhadores e da classe média, arrisca virar agitador cesarista, provocador de crise e predestinado a malogro. Dentro de nosso presidencialismo defeituoso e de nossa democracia relativa, o que ele tem de fazer é combinar essas duas práticas, atenuando os perigos de cada
uma com a força da outra. Solução
frágil, porque dependente das virtudes e das capacidades do presidente e de seus colaboradores.
A resposta não é substituir o presidencialismo que copiamos dos
americanos por parlamentarismo
que copiaríamos dos europeus. E
que, instituído precocemente, tornaria a política ainda mais controlável pelos interesses dominantes
ao privar a nação dessa alavanca
sem par que é a eleição direta de
presidente. O caminho, por enquanto, é consertar o regime que
temos, dotando-o de mecanismos
para a superação pronta dos impasses, por meio de eleições antecipadas ou de plebiscitos abrangentes, introduzindo nele elementos
de democracia direta e participativa e revolucionando nossa cultura
política graças ao financiamento
público das campanhas, à adoção
de Orçamento transparente e impositivo e à supressão da vasta
maioria dos cargos públicos sujeitos a indicação política. E reforçar
ao mesmo tempo, sob resguardo do
Judiciário, as garantias das oposições e das minorias. Democracia de
alta energia, organizada para deixar que o povo brasileiro respire,
resista, ouse e inove.
www.law.harvard.edu/unger
ROBERTO MANGABEIRA UNGER escreve às terças-feiras nesta coluna.
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