São Paulo, quarta-feira, 04 de julho de 2007

Próximo Texto | Índice

Esconde-esconde

Chicanas e manobras protelatórias no caso Renan Calheiros ampliam o desgaste do Senado; é preciso elucidar os fatos

O PRESIDENTE do Conselho de Ética do Senado, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), teve uma idéia. Quis "preservar a imagem" da Casa e, sem submeter a decisão ao plenário do conselho, enviou o processo sobre Renan Calheiros (PMDB-AL) de volta para a Mesa. Assim começou mais um lamentável episódio de degradação de procedimentos na cúpula do Legislativo.
Todos os argumentos, se é que podem ser chamados assim, utilizados por Quintanilha para proceder à manobra filiam-se ao espírito da chicana. O pedido de abertura de investigação não poderia ter sido remetido ao conselho sem passar pela Mesa; a Polícia Federal não poderia ter realizado a perícia que realizou; o inquérito não poderia ter extrapolado a circunscrição da petição original, feita pelo PSOL.
Nenhum desses itens, arrolados de resto por assessores jurídicos subordinados ao presidente do Senado, significa constrangimento ao direito de ampla defesa de que tem desfrutado Renan Calheiros ao longo desse processo. O que já seria absurdo no âmbito judicial -tentar anular um procedimento em curso por conta de questiúnculas- se torna escárnio num julgamento de natureza política.
Os defensores da ação entre amigos para enterrar, sem a devida apuração, o processo contra o presidente do Senado ainda não entenderam, justamente, a natureza política do caso. Manobras de quem se dedica a procurar pêlo em ovo não serão capazes de liqüidar o assunto. Apenas a elucidação dos fatos -no caso, a origem dos recursos com que um lobista pagou despesas pessoais de Renan Calheiros- poderá resolver essa questão.
Não surpreende, portanto, que a recidiva da chamada "operação epitáfio" tenha sido rechaçada, como ocorreu com a versão original, na opinião pública e no próprio Senado. Ontem a Mesa, acuada pela reação despertada após a manobra, não teve alternativa a não ser devolver rapidamente o caso ao Conselho de Ética. Ocorre que o saldo, ao final de mais uma tentativa fracassada de ludibriar a sociedade, é de ampliação do desgaste da Casa.
Aumentaram dentro do Senado as pressões para que Renan Calheiros se afaste da presidência a fim de que possa defender-se com mais desembaraço -e sem arrastar consigo a instituição que representa. O parlamentar peemedebista, no entanto, reafirmou sua intenção de permanecer no posto: "Não arredarei o pé da presidência".
Trata-se de uma opção política pessoal, não obstante implicando custos para a imagem do Senado, que é preciso respeitar. O que está cada vez mais difícil de tolerar é a manutenção da estratégia protelatória por parte do grupo, cada vez mais restrito, que defende Renan Calheiros.
O senador deveria ser o primeiro interessado em que esse assunto fosse esclarecido no menor tempo possível -com a apresentação de todos os documentos, a realização de todas as perícias e a inquirição de todas as testemunhas necessárias. Chega de brincar de esconde-esconde.


Próximo Texto: Editoriais: Docentes em falta

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.