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CLÓVIS ROSSI
A conspiração vitoriosa
LISBOA - Leio na coluna de Benjamin Steinbruch que "o megainvestidor George Soros, em entrevista
ao programa "Roda Viva", recusou-se a criticar o governo Lula, com
uma exceção: disse que os juros
brasileiros estão muito altos".
Uma boa hipótese para Soros não
criticar o governo Lula é a seguinte:
foi vitoriosa, completamente vitoriosa, a conspiração ocorrida durante a campanha eleitoral de 2002
contra o então candidato do PT.
Lembra-se da frase de Soros à Folha, naquela época? "É Serra ou o
caos", dizia o megainvestidor.
Como o eleitorado não deu a menor bola, os mercados financeiros
geraram de fato o caos (com o inestimável auxílio de Mauro Zafalon,
verdadeiro banco de dados ambulante, já mostrei os números do
caos neste mesmo espaço há algum
tempo; qualquer leitor curioso pode checar).
O caos invadiria o governo Lula
se este não tivesse capitulado e adotado as políticas convencionais,
sem o mais leve parentesco com o
que o PT e o próprio Lula defenderam a vida toda. Nada de estatizações ou reestatizações; nada de calote ou reprogramação da dívida;
nada de mexidas no câmbio (o governo FHC já havia adotado o câmbio flutuante); nada de uma reforma agrária que de fato mexesse na
estrutura fundiária etc. etc. etc.
Aumentar as bolsas-esmola, tudo
bem. É dinheiro que sai do meu, do
seu, do nosso bolso mesmo, nada
que nem sequer arranhe os lucros
portentosos do andar de cima com
a ciranda financeira.
Nada também que mude a estrutura social brasileira, como cansou-se de dizer e escrever Frei Betto,
amigo e eleitor de Lula.
A conspiração deu certo para os
seus organizadores e até para Lula,
que tem o apoio dos Soros da vida e
dos miseráveis, contentinhos, como sempre, com as migalhas.
Não sei se há ou não alternativa.
Mas, que foi a vitória da mediocridade, é inegável.
crossi@uol.com.br
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