São Paulo, quarta-feira, 04 de julho de 2007

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CLÓVIS ROSSI

A conspiração vitoriosa

LISBOA - Leio na coluna de Benjamin Steinbruch que "o megainvestidor George Soros, em entrevista ao programa "Roda Viva", recusou-se a criticar o governo Lula, com uma exceção: disse que os juros brasileiros estão muito altos". Uma boa hipótese para Soros não criticar o governo Lula é a seguinte: foi vitoriosa, completamente vitoriosa, a conspiração ocorrida durante a campanha eleitoral de 2002 contra o então candidato do PT.
Lembra-se da frase de Soros à Folha, naquela época? "É Serra ou o caos", dizia o megainvestidor. Como o eleitorado não deu a menor bola, os mercados financeiros geraram de fato o caos (com o inestimável auxílio de Mauro Zafalon, verdadeiro banco de dados ambulante, já mostrei os números do caos neste mesmo espaço há algum tempo; qualquer leitor curioso pode checar).
O caos invadiria o governo Lula se este não tivesse capitulado e adotado as políticas convencionais, sem o mais leve parentesco com o que o PT e o próprio Lula defenderam a vida toda. Nada de estatizações ou reestatizações; nada de calote ou reprogramação da dívida; nada de mexidas no câmbio (o governo FHC já havia adotado o câmbio flutuante); nada de uma reforma agrária que de fato mexesse na estrutura fundiária etc. etc. etc.
Aumentar as bolsas-esmola, tudo bem. É dinheiro que sai do meu, do seu, do nosso bolso mesmo, nada que nem sequer arranhe os lucros portentosos do andar de cima com a ciranda financeira.
Nada também que mude a estrutura social brasileira, como cansou-se de dizer e escrever Frei Betto, amigo e eleitor de Lula. A conspiração deu certo para os seus organizadores e até para Lula, que tem o apoio dos Soros da vida e dos miseráveis, contentinhos, como sempre, com as migalhas. Não sei se há ou não alternativa. Mas, que foi a vitória da mediocridade, é inegável.

crossi@uol.com.br


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