São Paulo, quarta-feira, 04 de julho de 2007

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Colapso dos aeroportos de São Paulo

ALBERTO GOLDMAN


Em cinco anos, o cenário só vai piorar. O governo federal tem sido incapaz de encarar o desafio. Que o entregue, pois, ao governo paulista


O DESENVOLVIMENTO econômico de São Paulo e os brasileiros em geral, especialmente os que vivem e trabalham em nosso Estado, estão diante de uma grave crise: os aeroportos paulistas estão congestionados e, no que respeita ao transporte de carga, estão próximos da saturação.
Não se trata aqui do problema com os controladores de vôo, que agrava o quadro nos dias atuais e tem amplitude nacional -e é matéria afeta ao governo federal-, que terá de ter solução no curto prazo. Trataremos da infra-estrutura aeroportuária de São Paulo, que já está em colapso.
O tráfego aéreo na região metropolitana de São Paulo -Guarulhos, Congonhas e Campo de Marte- passou de 23,8 milhões para 34,3 milhões de passageiros por ano entre 2003 e 2006, um crescimento, em três anos, de 44,5%, ou 10,5 milhões. Como a capacidade nominal dos aeroportos citados é de 25,2 milhões de passageiros/ano, já em 2003 estávamos trabalhando no limite e, em 2006, com 9 milhões acima dele, absorvidos principalmente por Congonhas. Em Guarulhos -que hoje está em via de saturação-, o terceiro terminal já deveria estar pronto para permitir um acréscimo de 12 milhões de passageiros, mas só agora entra em fase de licitação, com recursos (insuficientes) de R$ 1 bilhão previstos no PAC e prazo para 2012.
Em um cenário otimista, com um aumento anual de tráfego de 8,6% ao ano (média dos últimos 14 anos), em 2012 teremos de atender 56 milhões de passageiros/ano. Mesmo com o terceiro terminal de Guarulhos em operação, teremos capacidade de atender apenas 46 milhões, mantendo a atual superlotação de Congonhas. Assim, durante os próximos cinco anos, a situação só vai piorar, e a demanda continuará bastante acima da oferta.
O governo federal trabalha com a hipótese de fazer de Viracopos uma alternativa para enfrentar a crise. É um aeroporto que pode ter alta capacidade, hoje totalmente ocioso no que respeita ao transporte de passageiros. Mas está situado a mais de 90 km de São Paulo. Mesmo que fosse viável a construção da ferrovia São Paulo-Campinas-Viracopos para permitir o acesso dos usuários da capital -e, pelos estudos de viabilidade econômica realizados até agora, não o é-, o trem teria velocidade de 110 km/hora, com tempo de viagem de mais de uma hora.
Além disso, como o maior centro gerador de tráfego da região metropolitana de São Paulo se situa na área sul da capital, haveria expressivo tempo adicional para atingir a estação inicial, na região central da cidade, totalizando mais de duas horas de viagem. É bom lembrar que o problema não afeta só o transporte de passageiros mas também o transporte de cargas, que, segundo o presidente da Infraero, está próximo de um "apagão". De fato, o governo federal foi incapaz de preservar as áreas de retroporto que, em Viracopos, estavam destinadas à instalação de indústrias exportadoras. A ocupação irregular dessas áreas por famílias carentes já afastou inúmeros investimentos em plantas industriais que usariam a proximidade do aeroporto para viabilizar o transporte aéreo de seus produtos para o exterior.
Trata-se agora de enfrentar o problema causado pelo descaso da administração federal. Algumas ações pontuais, a curto prazo, podem minimizar a crise, mas soluções definitivas só são possíveis a médio e longo prazo, desde que se tome consciência da gravidade da situação, sem mascará-la com a revolta dos controladores de vôo ou com a tradicional neblina que se abate sobre a região.
A região metropolitana de São Paulo necessita de um novo e grande aeroporto, trabalhando em um sistema integrado com os demais aeroportos. O sistema, na forma atual, já apresenta alta rentabilidade e poderá viabilizar um investimento privado ou público-privado para a construção e a operação do novo aeroporto. Basta vontade política.
O governo federal tem se mostrado incapaz de realizar tamanha tarefa, já que nem sequer consegue manter em boas condições as importantes rodovias federais em São Paulo. Que entregue, pois, a tarefa para o governo paulista, que tem demonstrado, pela qualidade da sua rede estadual de rodovias, capacidade para poder assumir essa responsabilidade. São Paulo tem expertise para tanto e é o principal interessado em desfazer o gargalo que o sistema aeroportuário representa para o desenvolvimento econômico do Estado e do país. Não há tempo a perder.

ALBERTO GOLDMAN, 69, engenheiro civil, é vice-governador e secretário de Desenvolvimento do Estado de São Paulo. Foi ministro dos Transportes (governo Itamar) e secretário da Administração do Estado de SP (governo Quércia).

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