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Real, 15 anos
Plano produziu avanço enorme, mas opções na sua condução geraram custos desnecessários para PIB e dívida pública
SEM DÚVIDA há muito o que
comemorar no aniversário
de 15 anos do Plano Real.
A queda da inflação -que fechou o ano de 1994 em 1.000%-
para os atuais níveis de um dígito
não só trouxe um horizonte previsível para a atividade econômica, fator crucial para o desenvolvimento, mas
pôs fim ao dispositivo da distribuição de
renda contra os
mais pobres, o
segmento mais
desprotegido
contra os efeitos
da corrosão inflacionária.
Além disso, a
transformação
do ambiente
macroeconômico se deu em
meio a reformas importantes,
como o saneamento do sistema
financeiro nacional, a renegociação das dívidas de Estados e municípios e a consolidação da Lei
de Responsabilidade Fiscal como marco regulador para a condução das finanças públicas.
Mas o caminho rumo à estabilização também envolveu enormes custos, em parte desnecessários, porque decorrentes de
opções de política incorretas.
Se a valorização do real dos primeiros meses foi importante para o sucesso do plano num momento delicado, logo ficaria clara
a necessidade de correção de rumos -dada a expansão acelerada
das importações e do déficit nas
transações com o exterior.
No entanto, pautada em boa
medida pelas intenções do presidente Fernando Henrique Cardoso de reeleger-se em 1998, a
política econômica decidiu manter a âncora cambial do real em
patamar apreciado, o que exigiu
a fixação da taxa de juros interna
em níveis historicamente elevados para garantir a entrada no
país dos dólares, necessários para fechar as contas externas.
O abandono do câmbio fixo em
favor de um sistema de taxas flutuantes, em janeiro de 1999,
ocorreu após três crises cambias
terem tornado
evidente a inevitabilidade da
mudança.
Mas a substituição tardia do
regime cambial
deixou um ônus
para a estratégia
anti-inflacionária em sua nova
etapa. A elevada
dívida pública
herdada da fase
anterior condicionou a política
econômica sob o regime de metas de inflação a manter as taxas
de juros ainda excessivamente
altas, como compensação aos investidores pelos riscos associados ao financiamento do Estado.
A opção por postergar o ajuste
teve consequências danosas, que
se fizeram sentir principalmente
sob a forma de sacrifício do crescimento econômico, elevação da
carga tributária e restrição ao aumento do investimento público,
em especial no setor de infraestrutura, cujas carências são, ainda hoje, um dos limitadores para
a sustentação de taxas elevadas
de crescimento por longo tempo.
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