|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Terra estrangeira
FOI SANCIONADA anteontem
pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva a legislação
que permitirá normalizar a permanência de cerca de 50 mil estrangeiros que vivem de maneira
irregular em solo brasileiro.
A decisão vai em sentido oposto ao endurecimento que marca
a política de imigração de países
ricos. O caso mais recente e deplorável é o da Itália, que tem no
primeiro-ministro Silvio Berlusconi um incentivador do racismo, como atestam suas estapafúrdias declarações -a mais recente delas, durante as eleições
regionais realizadas no mês passado, lamentando que Milão parecesse "uma cidade africana".
É verdade que no Brasil o cenário difere daquele que se observa
no mundo economicamente
mais avançado. Embora seja em
sua história um país aberto a fluxos migratórios, entre nós a presença de estrangeiros caiu nos
últimos dez anos -ao passo que
aumenta a saída de cidadãos para o exterior. Bem diferente é o
quadro nas nações ricas, que
atraem quantidades crescentes
de migrantes de regiões menos
favorecidas em busca de melhores condições de vida.
Tal situação não deveria, no
entanto, servir de justificativa
para criminalizar a imigração
ilegal e insuflar um movimento
autoritário e regressivo da opinião pública, como se tem observado na Europa, continente,
aliás, de tenebroso histórico
quanto a este aspecto.
É bom lembrar que a discriminação, cujo peso se volta principalmente para os indivíduos
mais pobres, também se estende
às políticas de comércio, com a
interposição de todo tipo de barreira a mercadorias produzidas
pelos países em desenvolvimento, em especial as agrícolas.
Acerta o governo Lula ao caminhar no sentido de legalizar a
presença de estrangeiros, oferecendo-lhes direitos e cobrando
deveres para que vivam no país.
Texto Anterior: Editoriais: Real, 15 anos Próximo Texto: Paris - Clóvis Rossi: A crise, cadê a crise? Índice
|