|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MELCHIADES FILHO
O país do futuro
BRASÍLIA - A disputa no Senado,
do atoleiro de Sarney ao cabo-de-guerra em torno da instalação de
CPIs, não deve ser analisada à margem da corrida presidencial.
Tanto o governo federal como
seus adversários sabem que Dilma
Rousseff, ainda que tenha razões
para martelar a comparação dos oito anos de Lula com os oito anos de
FHC, não poderá fazer uma campanha somente retrospectiva.
A satisfação do brasileiro detectada pelas pesquisas de opinião não
significa uma descarga automática
de votos na candidata da situação.
Nada impede que o eleitor considere um nome da oposição mais capacitado para preservar o que deu certo e realizar novos sonhos.
É por isso que, de um lado, Aécio
Neves fala no pós-Lula e José Serra
evita afrontar o Planalto e, de outro,
o presidente insiste em programas
que ultrapassam o calendário de
seu mandato (PAC, Minha Casa).
De certo modo, eles já travam a disputa desse futuro continuísta.
Para sobressair numa eleição
sem vocação para o contraste e
atender as expectativas do eleitorado (otimista até na crise econômica), Dilma terá, portanto, de jogar
pra frente e lançar o que colegas de
Planalto chamam de "mito novo".
O fato de a ministra ser desconhecida é ao mesmo tempo um
trunfo e um transtorno. Dá aos
marqueteiros liberdade para corrigir a imagem e inventar o discurso,
mas torna mais difícil conferir credibilidade ao pacote final. Que
"mito" pode prometer uma candidata que não tem retrospecto de
promessas?
O pré-sal é a chave. A fabulosa receita estimada da exploração dos
novos poços autoriza planos grandiosos. Dilma, que cuidou de energia no governo Lula, tem autoridade para anunciar a "revolução do
bem-estar" bancada pelo petróleo.
Uma CPI da Petrobras permitiria
à oposição atrapalhar a construção
desse "mito novo"; a sobrevivência
e a agonia de Sarney no Senado ajudam o governo a evitar a CPI.
melchiades.filho@grupofolha.com.br
Texto Anterior: Paris - Clóvis Rossi: A crise, cadê a crise? Próximo Texto: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Receitas letais Índice
|