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RUY CASTRO
Receitas letais
RIO DE JANEIRO - Gay Talese é
um escritor americano cujo nome
vem sempre associado a expressões
de que ele diz não gostar, como
"new journalism" e "jornalismo literário". Eu também não gosto.
Jornalismo é jornalismo.
Se não
contiver informação original e acurada, o "literário" não conseguirá
salvá-lo.
E seria assim tão novo o "new
journalism" criado por Talese, Tom
Wolfe e outros na revista "Esquire"
nos anos 60? Sem esse nome, os
americanos já pareciam praticá-lo
30 anos antes, no jornal "New York
World", de Herbert Bayard Swope,
na New Yorker" e na própria "Esquire". Mesmo no Brasil dos anos
40, Joel Silveira e Rubem Braga
também faziam parecido. Ou será
que, antes do "new journalism", toda a imprensa escrevia mal?
Como receita de trabalho, Talese
sempre enfatiza a necessidade de o
repórter ouvir muita gente e observar o ambiente -se Frank Sinatra
não quer falar com você, fale com
quem estiver à volta dele e esquadrinhe o cenário. Uma técnica que
remonta a Gutenberg, mas, vá lá. O
importante é apurar, não pressupor, e só então escrever.
Daí a surpresa ao ler na Folha
que, para Talese, "a imprensa matou Michael Jackson". Mas como?
Segundo ele, Michael se entregou
aos remédios "controlados" porque
a imprensa o acusava de abusar sexualmente de criancinhas. É uma
afirmação ousada. Talese terá ouvido isso de Michael, do psiquiatra,
da enfermeira ou da babá do artista? Ou será uma suposição?
Objetivamente, Michael parecia
ser usuário em alta escala dos analgésicos opioides Demerol, OxyContin e Dilaudid, do narcótico Vicodin, do ansiolítico Xanax, do relaxante muscular Soma, do antidepressivo Paxil, do antialérgico Vistaril (que potencializa o efeito dos
opiáceos) e do sedativo Diprivan,
para anestesia geral. Nem a imprensa pode ser tão letal.
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