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TENDÊNCIAS/DEBATES
É positiva a proposta de redução da jornada de trabalho e aumento do valor da hora extra?
NÃO
Leis sozinhas não criam empregos
ARMANDO MONTEIRO NETO
A REDUÇÃO da jornada de trabalho para 40 horas semanais
-sem ajustes nos salários e
acompanhada do aumento do adicional da hora extra para 75% do valor da
hora normal- está na contramão da
tendência internacional. Prevista na
proposta de emenda constitucional
231/95, a mudança não alcançará os
objetivos de criação de empregos propugnados por seus defensores.
Almejamos o mundo ideal, onde as
pessoas possam trabalhar menos e
ganhar mais, mas convivemos com os
limites da atividade econômica e as
restrições impostas pela realidade decorrente da severa recessão global.
A expectativa é de aumento de custos, se aprovada a PEC. Cálculos preliminares apontam elevação de cerca
de 10% no custo do trabalho para todos os setores e todas as regiões do
país.
Uma questão sensível neste momento de queda na demanda e acirramento da concorrência, que comprometerá a competitividade brasileira,
ameaçará o emprego e adiará a retomada do crescimento no pós-crise.
É especialmente preocupante o impacto da redução da jornada nas micros e pequenas empresas. Responsáveis por mais de 50% dos empregos
do país, os empreendimentos de pequeno porte enfrentarão dificuldades
para absorver e repassar aos preços o
adicional de custos. As grandes empresas terão mais facilidade de transferir os encargos ao mercado e, se isso
ocorrer, conviveremos com o risco de
elevação da inflação e de redução do
poder de compra das famílias.
Pressionados pelos aumentos dos
custos, empresários terão que buscar
compensações para manter a competitividade. Entre as medidas que poderão ser adotadas, estão a intensificação do uso dos recursos humanos e
os investimentos em automação. Há
ainda a opção de produzir menos com
o mesmo quadro de pessoal. São caminhos em nada contribuirão para a
abertura de postos de trabalho.
O fato é que leis sozinhas não criam
empregos. O dinamismo do mercado
de trabalho depende sobretudo de investimentos na produção, crescimento sustentado e educação de boa qualidade. Prova disso é que a taxa de desemprego no país recuou entre 2004
e 2008, quando o Brasil cresceu mais
de 4% ao ano e os empresários elevaram seus investimentos na produção.
Em contrapartida, em apenas três
meses, entre novembro de 2008 e janeiro deste ano, quando a crise atingiu a economia brasileira, 800 mil
postos de trabalho foram fechados no
país, de acordo com o Cadastro Geral
de Empregados e Desempregados, do
Ministério do Trabalho (Caged).
A educação e a boa formação profissional são outros aspectos a considerar. Em períodos de crescimento, empresas não conseguem preencher vagas no limite da necessidade pela ausência de candidatos qualificados.
A educação de qualidade retém o
trabalhador no emprego, porque ele
tem as competências para operar as
transformações necessárias à modernização e ao aumento da produtividade nas empresas.
A experiência mostra que o fórum
mais adequado à discussão da jornada
é a livre negociação. Afinal, cada setor
tem suas peculiaridades. É absurdo
tentar impor regra única a atividades
diferentes. Exemplo disso são os pactos entre trabalhadores e empregadores que asseguram a muitas categorias jornadas inferiores ao limite de
44 horas previsto na Constituição.
E
há os acordos que reduziram a jornada e os salários para evitar demissões
em períodos de queda da produção.
Países como Alemanha, Dinamarca
e Inglaterra têm jornadas legais de 48
horas semanais e permitem que a duração do trabalho seja definida por
empresários e trabalhadores conforme as necessidades e possibilidades
das partes. Argentina, Chile e México,
economias similares à do Brasil, têm
jornada legal de 48 horas semanais.
A expectativa da Confederação Nacional da Indústria é que as discussões sobre a PEC 231/95 considerem
a realidade. O cenário atual e os desafios que o Brasil precisa vencer para
voltar a crescer e criar empregos requerem uma reforma na legislação
trabalhista que reduza os encargos
sobre o trabalho e privilegie a livre
negociação.
Regras mais modernas e custos menores desestimularão a informalidade, incentivarão o emprego, garantirão direitos básicos a milhões de trabalhadores e segurança às empresas.
ARMANDO DE QUEIROZ MONTEIRO NETO, 57, empresário, é presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria) e deputado federal pelo PTB-PE.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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