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TENDÊNCIAS/DEBATES
SIM
Jornada menor, vida melhor
PAULO PEREIRA DA SILVA
O PROJETO pela redução da jornada de trabalho, sem redução
salarial, e pelo aumento das
horas extras de 50% para 75%, aprovado nesta semana por comissão especial da Câmara dos Deputados, trará muitos benefícios para a sociedade
brasileira. Essa mudança na legislação é extremamente necessária e interessa aos trabalhadores -e à sociedade em geral- porque gera empregos e melhora a qualidade de vida.
Com a redução da jornada para 40
horas semanais, todos ganham. A redução, por exemplo, vai gerar mais
empregos, importante medida neste
momento de incertezas econômicas.
Segundo o Dieese, a implementação
da medida tem o potencial de criar,
em uma primeira etapa, cerca de 2
milhões de novos postos de trabalho.
Há ainda as vantagens sociais, já
que o trabalhador terá mais tempo
para a família, o lazer e sua própria
qualificação ou requalificação profissional. A medida também vai contribuir para a diminuição dos problemas
de saúde e acidentes de trabalho, resultado de jornadas exaustivas.
Mas isso só acontecerá se limitarmos o uso da hora extra trabalhada,
motivo pelo qual incluímos no texto,
aprovado por unanimidade, o aumento do valor adicional pago sobre a hora extra de 50% para 75%. O encarecimento do valor da hora extra é um
mecanismo que vai fazer com que as
contratações sejam estimuladas.
Não podemos nos calar diante da
falácia empresarial de que a medida
irá encarecer a produção nacional.
Ainda de acordo com dados do
Dieese, a produtividade das empresas, de 2000 até agora, cresceu 27%, e
seu custo poderá aumentar apenas
1,99% com a implantação da jornada
de 40 horas. Como a produtividade
nas empresas tem crescido constantemente, em menos de seis meses o
aumento de custo seria compensado.
Como podemos perceber, os números revelam um brutal aumento dos
ganhos de produtividade nos últimos
anos. E esses ganhos, fruto das inovações tecnológicas e organizacionais,
não podem ficar só com o capital. Eles
também são resultado de muita dedicação e do árduo trabalho da classe
trabalhadora e, portanto, devem ser
estendidos a todos.
Vale destacar que, com o tempo livre oriundo da jornada menor, o trabalhador poderá usá-lo para a elevação do nível educacional. E todos sabemos: trabalhador mais bem qualificado resulta em melhoria na produtividade e no aumento da competitividade das indústrias.
Outro argumento empresarial contra a redução é que o aumento do custo da mão de obra diminuiria a competitividade das empresas, o que levaria ao fechamento de muitas daquelas
voltadas para a exportação -e mesmo das que têm de competir internamente com produtos importados.
Dados do Departamento do Trabalho dos EUA não confirmam o argumento. Segundo esse órgão, o custo
horário da mão de obra na indústria
brasileira é 6,7 vezes menor que o da
americana, 5,3 vezes menor que o da
francesa e 2,7 vezes menor que o da
coreana. Como podemos perceber, há
margem para a redução da jornada
sem perda de competitividade.
A redução da jornada é uma luta
histórica, e todas as modificações ao
longo dos anos ocorreram devido à
mobilização dos trabalhadores brasileiros. A intensa luta levou, na década
de 1930, à primeira lei nacional sobre
jornada de trabalho, que a limitava a
48 horas semanais.
No início dos anos 1980, também
como resultado da movimentação
sindical, diversas categorias conquistaram jornadas que variavam entre
40 e 44 horas por semana, fortalecendo as lutas dos trabalhadores e sensibilizando o país para que fosse garantido um teto de 44 horas semanais,
previsto na Constituição de 1988.
Em conjunto com o deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP), elaborei um requerimento nesta semana,
já assinado por nove líderes partidários, pedindo ao presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), urgência na tramitação da matéria na Casa.
As centrais sindicais, na chamada
unidade de ação, também estão construindo agenda visando esclarecer e
sensibilizar os congressistas e a sociedade sobre os benefícios da medida.
A redução da jornada é um importante mecanismo para repartir os ganhos de produtividade acumulados
pelo capital nos últimos anos e distribuir renda, buscando a construção de
uma sociedade mais justa, com emprego e renda para todos.
PAULO PEREIRA DA SILVA, o Paulinho, 53, é presidente
da Força Sindical e deputado federal pelo PDT-SP.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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