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Teto de vidro
Decisão da Justiça que proíbe salários acima do limite é positiva, mas Congresso precisa analisar projeto sobre a questão para coibir abusos
É um passo importante na moralização dos gastos públicos e no
respeito ao contribuinte a decisão
da Justiça Federal que ordena à
União e ao Senado o respeito estrito ao teto salarial do funcionalismo estabelecido na Constituição.
A determinação de que nenhum servidor deverá receber remuneração superior àquela paga
mensalmente aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF),
equivalente hoje a R$ 26,7 mil, foi
inscrita na Carta Magna com o intuito de evitar desperdício de dinheiro público e de coibir abusos
de integrantes dos três Poderes.
Por mais de duas décadas, no
entanto, tal limite não tem passado de mera peça de ficção.
Na ausência de regulamentação específica sobre quais proventos devem ser contabilizados ou
não como "salário", funcionários
e integrantes das instituições responsáveis por elaborar, executar e
interpretar a legislação vigente
lançam mão de manobras contábeis para descumprir a determinação constitucional.
Executivo, Legislativo e Judiciário interpretam, cada um à sua
maneira, quais proventos, comissões e gratificações devem ser
considerados como parte do salário. Acúmulos de cargos -e de
seus vencimentos- são prática
comum entre servidores do governo federal e do Congresso.
Sob o manto de pretensa legalidade, criam-se privilégios injustificáveis. Calcula-se que mais de
R$ 150 milhões sejam gastos
anualmente em pagamentos acima do teto nos três Poderes.
Ao aceitar argumentos do Ministério Público contra essa prática, a Justiça Federal determinou,
na semana passada, que valores
extra-salário recebidos pela participação em grupos de trabalho,
horas extras e gratificações sejam
contabilizados como parte da remuneração total de funcionários
da União e do Senado.
A Advocacia-Geral da União já
foi informada da decisão, contra a
qual cabe recurso. É de esperar
que o governo federal não faça
uso desse seu direito.
Afinal, a própria ministra-chefe
da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, é
autora de um projeto de lei em
análise no Senado que busca regulamentar a obediência ao teto
de vencimentos para o funcionalismo público. Está em suas mãos
dar um impulso para a moralização desse tipo de gasto.
A decisão da Justiça é, de toda
forma, apenas um passo inicial.
Compete ao Congresso analisar
com celeridade o projeto da ex-senadora, pondo fim às brechas usadas atualmente pelos três Poderes
para romper o teto.
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