São Paulo, domingo, 04 de agosto de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Três longos meses

SÃO PAULO - Vista do planalto Central, a sede do governo, a crise financeira dificilmente amainará pelos próximos três longos meses, até que, no dia 27 de outubro, se saiba quem assumirá o lugar de Fernando Henrique Cardoso.
O raciocínio ouvido pela Folha é simples: por circunstâncias tanto externas como internas, o investidor não está disposto a correr riscos.
Mas, dentro de três meses, haverá um novo presidente, que forçosamente terá de dizer a que veio, eliminando as ambiguidades inevitáveis em época eleitoral.
Aí será o tempo de o investidor decidir se fica, se volta ou se dá de vez as costas ao país. É claro que circunstâncias externas contribuirão para essa decisão, como já estão contribuindo para a crise de confiança no Brasil. Mas não há espaço para listá-las e explicá-las.
Fiquemos, pois, nos fatores internos. Para o governo, os investidores misturam as necessidades de financiamento do Brasil, confundindo dívida externa e dívida interna.
Ignoram, sempre na visão oficial, que até o fim do ano já está coberta a necessidade de financiamento externo do setor público (do setor privado, não, é bom que se diga). Mas o investidor acha que haverá dificuldade para rolar a dívida interna, "o que nunca aconteceu na história", sempre segundo o que a Folha ouviu no governo.
Seja como for, para cobrir os três longos meses até a definição do novo presidente, restou apenas o recurso velho de guerra ao Fundo Monetário Internacional. Mas o governo não combinou com os russos, digo, com os candidatos, por achar que estes não teriam alternativa a não ser aceitar a extensão do acordo com o FMI.
Não está sendo exatamente assim, mas o Planalto continua apostando que "ou manifestam algum tipo de apoio ou pagam o preço".
É em torno desse, digamos, dilema que se fará o jogo político nos próximos dias ou semanas.



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