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DOAR PARA RECEBER
As eleições são o rito fundamental da democracia, e a
transparência no sistema de doação
de fundos de campanha é essencial à
credibilidade do pleito. Sem controle, as doações fornecem a entrada pela qual representantes de interesses
privados podem imiscuir-se na administração pública e tirar proveito
de consórcios espúrios com membros da classe política.
Infelizmente, o problema parece
ser inerente ao próprio regime democrático moderno. Mesmo em democracias bastante maduras não faltam exemplos de desvios desse gênero. Basta lembrar que o presidente
George W. Bush, dos Estados Unidos, viu-se às voltas com denúncias
de que parte considerável das 70 empresas contempladas com contratos
milionários para a reconstrução do
Iraque e do Afeganistão haviam contribuído financeiramente para a
campanha que o elegeu.
Guardadas as devidas proporções,
no Brasil -onde sobram exemplos
de relações promíscuas entre o poder
público e empresários- a notícia de
que cerca de um terço das empresas
que contribuíram para as campanhas da prefeita Marta Suplicy e do
governador Geraldo Alckmin presta
serviços à prefeitura e ao governo do
Estado demanda esclarecimentos.
É verdade que não há indícios de irregularidades no caso, mas é preciso
reconhecer que situações como essa
contribuem para reforçar a impressão de que colaboradores têm maiores chances de obter contratos. Infelizmente, é bastante comum -e não
de todo sem fundamento- a opinião de que acordos firmados em
troca de fundos estão na origem de
escândalos nos quais o interesse público é derrotado pelo privado.
É de esperar que casos como esses,
somados à proximidade dos pleitos
municipais, possam reanimar o debate acerca da transparência dos gastos e das contribuições de campanha. Apesar de essencial, o tema
-que estava entre os tópicos centrais da reforma política prometida
pelo presidente Luiz Inácio Lula da
Silva- parece ter sido relegado ao
esquecimento.
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