São Paulo, quarta-feira, 04 de agosto de 2004

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DOAR PARA RECEBER

As eleições são o rito fundamental da democracia, e a transparência no sistema de doação de fundos de campanha é essencial à credibilidade do pleito. Sem controle, as doações fornecem a entrada pela qual representantes de interesses privados podem imiscuir-se na administração pública e tirar proveito de consórcios espúrios com membros da classe política.
Infelizmente, o problema parece ser inerente ao próprio regime democrático moderno. Mesmo em democracias bastante maduras não faltam exemplos de desvios desse gênero. Basta lembrar que o presidente George W. Bush, dos Estados Unidos, viu-se às voltas com denúncias de que parte considerável das 70 empresas contempladas com contratos milionários para a reconstrução do Iraque e do Afeganistão haviam contribuído financeiramente para a campanha que o elegeu.
Guardadas as devidas proporções, no Brasil -onde sobram exemplos de relações promíscuas entre o poder público e empresários- a notícia de que cerca de um terço das empresas que contribuíram para as campanhas da prefeita Marta Suplicy e do governador Geraldo Alckmin presta serviços à prefeitura e ao governo do Estado demanda esclarecimentos.
É verdade que não há indícios de irregularidades no caso, mas é preciso reconhecer que situações como essa contribuem para reforçar a impressão de que colaboradores têm maiores chances de obter contratos. Infelizmente, é bastante comum -e não de todo sem fundamento- a opinião de que acordos firmados em troca de fundos estão na origem de escândalos nos quais o interesse público é derrotado pelo privado.
É de esperar que casos como esses, somados à proximidade dos pleitos municipais, possam reanimar o debate acerca da transparência dos gastos e das contribuições de campanha. Apesar de essencial, o tema -que estava entre os tópicos centrais da reforma política prometida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva- parece ter sido relegado ao esquecimento.


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