São Paulo, sábado, 04 de agosto de 2007

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História sem fim

IMPRESSIONA o cipoal em que se enreda o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), na tentativa de provar que pagou pensão a uma filha com recursos próprios. O último lastro em que se apóia para afastar suspeitas sobre a origem do dinheiro, que foi entregue à mãe da criança por um lobista de empreiteira, é o frigorífico Mafrial.
A casa de carnes, próxima a Maceió, seria a responsável por intermediar a compra de gado de suas fazendas. Seria a culpada, disse Renan Calheiros, pelo uso de "laranjas" nas transações. Faltava essa explicação para esclarecer por que os estabelecimentos indicados em recibos anteriores não existiam ou funcionavam em situação precária.
Mas o frigorífico, revelou a Folha, não tem autorização para comprar e vender carne. Caso tenha participado da intermediação, o fez de forma ilegal. Para completar o roteiro, digno de Dias Gomes, o Mafrial foi assaltado na noite de quarta. Seis homens armados levaram documentos, R$ 17 mil em dinheiro, R$ 200 mil em cheques e indagaram aos funcionários sobre "os documentos do Renan".
Uma versão inteligível sobre esse conjunto de versões e episódios deve vir da Polícia Federal, que realiza perícia em documentos apresentados pelo senador. Mas faltam papéis a enviar, e o prazo de 20 dias para a divulgação do laudo, que expira dia 14 de agosto, pode ser prorrogado.
É possível que a apuração esbarre ainda no princípio constitucional de que parlamentares só podem ser investigados mediante autorização do Supremo Tribunal Federal. Por isso, nem todas as indagações do Conselho de Ética do Senado devem ser respondidas pela PF.
A ninguém deveria interessar mais que ao próprio senador o pronto esclarecimento do caso. Cabe a ele impedir que uma simples prestação de contas pessoais se torne uma comédia sem fim.


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