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Editoriais
Ditadura olímpica
NÃO CHEGA a ser uma surpresa que as autoridades
chinesas tenham decidido manter a censura, ainda que
mitigada no caso da internet, durante os Jogos de Pequim. Tampouco devemos nos espantar
com o fato de os dirigentes do
Comitê Olímpico Internacional
(COI) terem concordado com as
restrições, ao mesmo tempo em
que diziam que a cobertura jornalística do evento seria livre.
Censura e repressão estão na
própria natureza do regime chinês, da mesma forma que o apego desmedido a oportunidades
de negócios caracterizam a cartolagem esportiva não apenas no
Brasil.
A rigor o COI jamais deveria
ter elegido Pequim para sediar os
jogos, dada a incompatibilidade
entre a ditadura chinesa e o objetivo declarado do movimento
olímpico, que é "construir um
mundo pacífico e melhor educando a juventude através do esporte praticado sem nenhum tipo de discriminação".
Como se afirmou aqui nesta
página em 2001, logo após a escolha, "levar para Pequim um
evento do porte dos Jogos Olímpicos, capaz de gerar vários milhões de dólares em receitas, só
pode ser entendido pelas autoridades chinesas como uma recompensa, um prêmio. Nunca
como uma admoestação pela sistemática violação de direitos humanos".
A tese de que a realização da
competição na China poderia levar o regime a comportar-se melhor e até a promover uma pequena abertura, ainda que fizesse sentido teórico, revelou-se falsa. Se há algo que as autoridades
locais promoveram nos últimos
meses foi uma intensificação das
medidas repressivas.
Sob pretexto de combater
ameaças terroristas, dissidentes
foram encarcerados. Para construir as instalações olímpicas, legiões de pequineses foram desalojadas de suas casas. A fim de fazer bela figura no espetáculo, o
governo incentivou as mais daninhas formas de nacionalismo,
incluindo manifestações contra
outras etnias, como os tibetanos.
Que as turbulências ao menos
sirvam de lição para o COI. As
credenciais democráticas precisam ser um dos critérios usados
na escolha das sedes.
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