São Paulo, segunda-feira, 04 de agosto de 2008

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Editoriais

Ditadura olímpica

NÃO CHEGA a ser uma surpresa que as autoridades chinesas tenham decidido manter a censura, ainda que mitigada no caso da internet, durante os Jogos de Pequim. Tampouco devemos nos espantar com o fato de os dirigentes do Comitê Olímpico Internacional (COI) terem concordado com as restrições, ao mesmo tempo em que diziam que a cobertura jornalística do evento seria livre.
Censura e repressão estão na própria natureza do regime chinês, da mesma forma que o apego desmedido a oportunidades de negócios caracterizam a cartolagem esportiva não apenas no Brasil.
A rigor o COI jamais deveria ter elegido Pequim para sediar os jogos, dada a incompatibilidade entre a ditadura chinesa e o objetivo declarado do movimento olímpico, que é "construir um mundo pacífico e melhor educando a juventude através do esporte praticado sem nenhum tipo de discriminação".
Como se afirmou aqui nesta página em 2001, logo após a escolha, "levar para Pequim um evento do porte dos Jogos Olímpicos, capaz de gerar vários milhões de dólares em receitas, só pode ser entendido pelas autoridades chinesas como uma recompensa, um prêmio. Nunca como uma admoestação pela sistemática violação de direitos humanos".
A tese de que a realização da competição na China poderia levar o regime a comportar-se melhor e até a promover uma pequena abertura, ainda que fizesse sentido teórico, revelou-se falsa. Se há algo que as autoridades locais promoveram nos últimos meses foi uma intensificação das medidas repressivas.
Sob pretexto de combater ameaças terroristas, dissidentes foram encarcerados. Para construir as instalações olímpicas, legiões de pequineses foram desalojadas de suas casas. A fim de fazer bela figura no espetáculo, o governo incentivou as mais daninhas formas de nacionalismo, incluindo manifestações contra outras etnias, como os tibetanos.
Que as turbulências ao menos sirvam de lição para o COI. As credenciais democráticas precisam ser um dos critérios usados na escolha das sedes.


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