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FERNANDO DE BARROS E SILVA
O Alienista
SÃO PAULO - Em baixa na PF,
Protógenes Queiroz está em alta na
opinião pública. Seu afastamento
do caso Daniel Dantas & Naji Nahas, cujas circunstâncias e motivações não foram bem esclarecidas,
teve o efeito de redimir os erros do
inquérito obtuso que produziu. Fora da investigação -não talvez pelos bons motivos-, o delegado ficou
à vontade para assumir, com e sem
razão, o papel de vítima dos poderosos e paladino da moralidade.
Feito celebridade, Protógenes
encontrou um palanque para seu
discurso cívico-messiânico, no qual
o jargão de delegacia vem embolado
com clichês da esquerda e rudimentos mal assimilados de sociologia.
Não deixa de sugerir um personagem de Glauber Rocha, sempre entre a política e o delírio, numa luta
encarniçada do bem contra o mal.
Em entrevista ao repórter Rubens Valente, nesta Folha, Protógenes se põe como "porta-voz do
grande grito contra a corrupção no
país", um "instrumento" do povo
que se sentia "oprimido" pelos corruptos. Não é difícil imaginá-lo deputado em 2010 ou na lista dos
mais vendidos do próximo Natal.
Assim como Daniel Dantas se
tornou um vilão de novela, o delegado também é uma caricatura de
herói. A questão de fundo vai além
dos personagens da hora.
A Constituição de 88 e duas décadas de regime democrático produziram novas gerações de juízes,
promotores, delegados e agentes da
PF empenhados e em condições de
enfrentar a impunidade dos poderosos. Isso é novo e é muito bom.
A boa nova, porém, produz
monstros quando se fica sabendo
que a Justiça concedeu à PF acesso
a todo o cadastro telefônico do país
a pretexto de investigar a turma de
Dantas. Isso também é novo e não é
apenas muito ruim. É assustador.
Se não se agir logo para conciliar
a sede de justiça com as garantias
constitucionais, corremos o risco
de caminhar para uma República
de Bacamarte, o famoso personagem de Machado de Assis que trancou a cidade inteira num hospício.
Que tal prender toda a população e
depois ir soltando os inocentes?
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