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ELIANE CANTANHÊDE
"Firmíssimo"
BRASÍLIA - Como estava escrito
nas estrelas, o fim do recesso e o reinício dos trabalhos do Senado providenciaram um triste espetáculo
para a opinião pública. Mais um.
Antes, atos secretos. Agora, palavras explícitas. Atos e palavras mostrando o quanto o Senado se torna
inútil, inchado de funcionários, caríssimo na sua distribuição de favores e agora palco de agressões e de
revisão da história.
Sentado solenemente na presidência, José Sarney assistiu a parte
da sessão, enquanto sua tropa de
choque recuperava velhas histórias
para distribuir agressões e insinuações aos que insistem na renúncia.
Em vez de presidir uma instituição,
preside uma guerra que tende a se
transformar numa guerra de pizzas.
Renan Calheiros, que não tem
muito a perder depois de meses de
pressão, da renúncia melancólica e
da volta pelas urnas, é não apenas o
líder da reação para manter Sarney
na presidência que já foi sua e lhe
escapou pelas mãos. É também o
autor do script "bateu, levou".
Aliás, ao lado de Fernando Collor,
outro que também já passou por tudo isso e aproveitou a confusão para
apresentar ao vivo e em cores a sua
versão de que tudo o que gerou CPI,
renúncia e caras-pintadas, 15 anos
atrás, foi uma farsa "urdida nos subterrâneos".
Renan luta para sobreviver e se
agarrar à importância que, em simbiose com Sarney, ainda tem no
PMDB e nos caminhos do partido
em 2010. Collor luta para renascer
de fato e lavar sua biografia para
além dos limites de Alagoas.
A novidade no quebra-quebra de
ontem é que Pedro Simon, que
sempre jogou a pá de cal em cargos
e mandatos moribundos, desta vez
não pôde brilhar sozinho. Enfrentou duras reações, atrapalhou-se
mais de uma vez, cansou.
Cristovam Buarque no seu novo
papel de acusador, Wellington Salgado se destacando como defensor,
Mão Santa com ar de sono presidindo o final da sessão. Tudo surreal. E
todos afundando juntos.
elianec@uol.com.br
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