São Paulo, quinta-feira, 04 de agosto de 2011

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Poeira levantada

A bancada do Partido da República (PR) no Senado anunciou a decisão de abandonar o bloco governista que formava com PT, PSB, PC do B, PDT e PRB. O bloco do PMDB, com 28 nomes, passa a ser agora o maior daquela Casa.
Ao divulgar que a partir de ontem seus seis senadores são "independentes", o PR faz um gesto de rebeldia, mais retórico do que efetivo, na tentativa de reconquistar um pouco do espaço político que perdeu no último mês, com a crise no Ministério dos Transportes.
Não significa que o partido deixará o governo nem que mudou de caráter. Os senadores agora "independentes" do PR não deram seu apoio à criação da CPI da corrupção, para a qual a oposição tentava ainda ontem atrair nomes descontentes da situação.
Formalmente, o PR continua no comando dos Transportes, de onde a presidente Dilma Rousseff afastou 27 pessoas, inclusive o ex-ministro e agora senador Alfredo Nascimento (AM). Conhecendo o histórico e os hábitos do partido, o mais provável é que a esse espasmo de insatisfação sobrevenha agora um período de reacomodação do PR à sombra do poder, nas condições possíveis.
Seria precipitado, no entanto, dizer que nada aconteceu. No discurso que proferiu na tribuna do Senado, Alfredo Nascimento não se limitou a fazer a defesa de si e de seu partido. Além da retórica previsível -"o PR não é lixo para ser varrido"-, havia na fala do senador uma evidente intenção de constranger a presidente.
Primeiro, tratou de dizer que saiu por "falta de apoio". Segundo, e mais importante, relacionou com o período eleitoral a disparada dos gastos previstos pelo ministério, atribuindo o fenômeno ao "descontrole no orçamento do PAC". Afirmou ter comunicado o fato à ministra Miriam Belchior (Planejamento) quando retomou o comando dos Transportes, após dez meses afastado, em campanha ao governo do Amazonas.
Ficou no ar, além da poeira, uma insinuação de que o ministério foi usado para irrigar a campanha da presidente. É algo sério, que precisa ser investigado com mais vagar. É também exemplo vívido de que Dilma, apesar do poder acumulado pela Presidência, permanece vulnerável às chantagens dos aliados que escolheu.


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