São Paulo, quarta-feira, 04 de setembro de 2002 |
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ANTONIO DELFIM NETTO O social
O presidente Fernando Henrique Cardoso tem justificada vaidade de sua obra intelectual e de seu desempenho no comando da nação.
Sempre atento e muito sensível às críticas (que nunca economizou quando
foi oposição), ele parece enfurecer-se
quando dizem que não cuidou especialmente do social na sua octaetéride.
Usando o restinho da paixão pelo debate que sobrou ao professor e o formidável poder que a mídia confere às
suas palavras, abusa, com frequência,
dos seus opositores, metendo-lhes
qualificativos ferozes. Quem ousasse
dizer que a política cambial de 1995 e
de 1998 nos levava para o desastre era
apenas catastrofista, neobobo ou ignorante... O governo insiste que o "cartão do cidadão" é o símbolo da mais efetiva rede de proteção social já construída, que transfere R$ 30 bilhões para mais de 30 milhões de pessoas por ano. Descontados, entretanto, os programas que já existiam, as transferências de renda do governo federal atingem 14 milhões de beneficiários (75% recebem o bolsa-escola e o bolsa-alimentação), com um dispêndio de menos de R$ 3 bilhões, qualquer coisa como R$ 17 por mês para cada cidadão. Há de ser pelo menos permitido duvidar dos benefícios de longo prazo dessa política assistencialista. Ela substituiu o emprego que se destruiu por um óbolo que escraviza o cidadão ao poder incumbente. E ainda tem sido utilizada para assustar o eleitor com a ameaça de que o "seu cartão-cidadão será cancelado se não votar no governo na próxima eleição", o que deveria, aliás, ser objeto da atenção da Justiça Eleitoral. Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br |
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