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PLÍNIO FRAGA
Manifesto antibotox
RIO DE JANEIRO - Meninas, envelheçam. No fim de semana, Marina Lima estava em palco carioca,
pregando que "eles não deixam
uma mulher ser presidente". A voz
rouca e a indignação política se
mostraram presentes. Ausentes estavam os vincos, as rugas, a expressão no rosto de Marina.
Como mostra Keith Richards,
não há nada menos rock and roll do
que tentar manter-se jovem eternamente. O rock, que se caracterizou
por aceitar todas as toxinas, pode se
ridicularizar pela menos prejudicial delas -a butolínica. A eterna
ditadura do poder ultrajovem deve
ser tão combatida quanto a cultura
machista política -se é que uma
não está tão embrenhada da outra
que no fundo sejam a mesma coisa.
"Eles" não deixam uma mulher
sequer envelhecer, quanto mais ser
presidente.
A bactéria Clostridium botulinum está a se espalhar em velocidade epidêmica. Subiu ao palco e ao
Planalto. Lula está na televisão a
sorrir sem franzir, a interjeicionar
com a expressividade de uma parede. Os homens se metrossexualizaram, mas a troco de perder o bonde
da história que viveram. O botox é
um agente da alienação -cultural,
política, pessoal. A ideologia se perdeu no tempo, e agora até o tempo
se perdeu no tempo.
O Brasil talvez precise de uma
mulher presidente, mas que venha
com sua história talhada no rosto.
Envelhecer hoje e se orgulhar disso
é um ato político. A Alessandra Negrini, a Dira Paes, a Guta Stresser, a
Karine Carvalho, Mariana Lima e a
Maytê Piragibe exibem pelas ruas
do Leblon a beleza da juventude,
mas, talentosas, estão todas a louvar Fernanda Montenegro, a rir do
computador da Globo que tenta
apagar o tempo dos rostos das pessoas. A Natália do Valle tinha de
contar isto para a Regina Duarte: o
tempo está sempre a favor se não
perdermos tempo com ele.
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