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CLAUDIA ANTUNES
Os candidatos e o mundo novo
NO MEIO DE TODA a conversa corrente sobre o novo e
perigoso mundo multipolar, um detalhe fundamental fica
relegado às entrelinhas ou aos miolos de textos caudalosos: os Estados Unidos, ainda a maior e mais
poderosa entre as potências, são
também a única que mantém ideologia expansionista, apresentando-se como um modelo a ser seguido.
A China, muita atenta por enquanto aos próprios desequilíbrios
internos, mostra sua força por
meio do comércio e do peso de seu
mercado. A Rússia, reerguida pelo
valor de suas reservas energéticas,
age para reconquistar uma "área de
segurança" definida muito antes
do comunismo. Os dois países adotaram o capitalismo de Estado
-não muito diferente do praticado
pela França, por exemplo, no pós-Segunda Guerra-, e nenhum deles
pede que o sigam. O nacionalismo é
o sustentáculo de seus líderes.
Mas é esse não-exemplo mesmo
que, no mundo, tem repercussões
fortes, embora oblíquas. A existência de novos pólos de poder significa que outros países, menores, podem também reivindicar autonomia em suas políticas, mesmo que
elas ocasionalmente divirjam do
apregoado -e muitas vezes não
praticado- pelos EUA ou por potências regionais dos quais são estrategicamente dependentes.
É a percepção dessa realidade
que separa, na campanha americana, o democrata Barack Obama do
republicano John McCain.
Sabe-se que os EUA, vitoriosos,
nunca fizeram uma revisão criteriosa de sua atuação na Guerra
Fria. Para velhos guerreiros daqueles anos, como McCain, continua
forte o apelo da idéia de que os
EUA, vanguarda das liberdades individuais, são sempre uma força
para o bem. Persiste também a noção, polêmica, de que países democráticos não vão à guerra entre si.
Daí a proposta da "Liga das Democracias", para se contropôr à ameaça das "potências autoritárias".
Reconhecer o limite prático dessas idéias é complicado num país
em que o proverbial messianismo
combina fervores patrióticos e religiosos, mas Obama deu alguns sinais de que refletiu sobre isso. Talvez a ocasião em que foi mais explícito tenha sido na entrevista, ao vivo, que ele e McCain deram ao pastor Rick Warren, em meados de
agosto. Confrontado com perguntas grandiosas sobre como os EUA
poderiam sanar os males do mundo, da orfandade ao ambiente, o democrata falou em "liderar pelo
exemplo" e disse que, muitas vezes,
pratica-se o mal quando se apregoa
agir em nome do bem.
O consenso entre os analistas, na
época, foi que, com suas respostas
cheias de nuances, Obama levou
uma surra de McCain, que desfiou
certezas simples sobre os limites
claros entre o céu e o inferno.
CLAUDIA ANTUNES é editora de Mundo . Hoje, excepcionalmente, não é publicado o artigo de Kenneth
Maxwell, que escreve nesta coluna ás quintas-feiras.
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