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JOSÉ SARNEY
Benditos dinossauros
EU NUNCA achei que a cobiça
pelo petróleo estivesse nas
motivações da guerra de Bush
ao Iraque. Achava delírio de radicais. Minha ingenuidade acabou
quando li a autobiografia de Alan
Greenspan, homem símbolo de
uma época de glória do Banco Central americano, conservador e republicano. Lá estava, com todas as
letras: "a Guerra no Iraque foi feita
por causa do petróleo".
Considerei-me um bobo, ao ter
acreditado que isso era um insulto
e calúnia, obra de xiitismo. Até a
farsa das armas de destruição em
massa estavam para mim à frente
do petróleo.
Não acabou o tempo em que se
guerreava pelo petróleo e quem tivesse mais ganhava a guerra. Quem
acha que as energias alternativas
são para já deve fazer um exame de
nível de otimismo. Por muitos e
muitos anos ainda dependeremos
dessa fonte de hidrocarbonetos,
poluente e por todos nós desejada
que acabe e se descubram e difundam as soluções de energia limpa.
Fui testemunha viva e participante da história do petróleo no
Brasil. Quando Monteiro Lobato
sonhava em encontrar petróleo.
Quando se acreditava que o Brasil
não tinha meios nem recursos financeiros e humanos para enfrentar o desafio de saber onde ele estava escondido em nosso subsolo.
Quando havia o medo de os trustes
estrangeiros (multinacional ainda
não estava em moda) abocanharem o petróleo que tivéssemos.
A campanha ganhou as ruas, e o
patriotismo nacional renasceu na
utopia de um Brasil com grandes
reservas. Os jovens saiam às ruas
(eu entre eles), os militares com a
bandeira da soberania, à frente a figura-símbolo do general Horta
Barbosa. Getúlio manda a lei ao
Congresso e não inclui o monopólio da Petrobras, a companhia a ser
criada, para não trombar com as
empresas estrangeiras. Deixou para a UDN, sua adversária, propor o
monopólio estatal da exploração
do petróleo. Bilac Pinto apresentou a emenda. Hoje ninguém se
lembra mais dele nem o cita.
A Petrobras contratou um Mister Link, maior autoridade internacional no ramo, para opinar. Seu
relatório afirmava que o Brasil não
tinha petróleo. A Petrobras não desistiu, não baixou a guarda, consolidou-se com grandes dificuldades
e obstáculos e foi buscar a mais difícil das tecnologias: petróleo em
águas profundas. Hoje é a melhor
do mundo nessa área. Foi mais longe. Com suas sondas sem parar,
chegou ao pré-sal, e o Brasil tem
pela frente um gigantesco desafio.
O presidente Lula foi o homem
certo para este momento: só ele enfrentaria a luta contra os grandes
grupos estrangeiros que querem o
pré-sal em regime de concessões.
No passado, os que defendiam o
monopólio eram chamados de dinossauros. Benditos dinossauros,
que asseguraram a utopia realizada
de um Brasil potência petrolífera.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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