São Paulo, domingo, 04 de setembro de 2011

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

As artes da USP

SÃO PAULO - A Secretaria de Estado da Cultura investiu cerca de R$ 80 milhões na reforma do antigo prédio do Detran, no Ibirapuera, a fim de transformá-lo na nova sede do MAC-USP, o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. Faz todo o sentido.
Seu acervo é, de longe, o mais importante de arte moderna na América Latina. Reúne em torno de 8.000 obras, do último autorretrato de Modigliani a quadros de Picasso, Matisse, Miró, Max Ernst, De Chirico, Umberto Boccioni, Tarsila, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Volpi, entre centenas de artistas.
Na USP, onde hoje se encontra, esse patrimônio fica praticamente escondido. O museu é pequeno e o acesso é difícil. Estão expostos de 1% a 5% das obras, apenas. O reitor da USP, no entanto, se recusa agora a transferir o MAC do campus.
Por que privar o público de ter um museu à altura de seu acervo, integrado, no mesmo complexo de cultura e lazer, à Fundação Bienal, ao MAM, ao Museu Afro Brasil, à área do parque Ibirapuera?
João Grandino Rodas alega "problemas profundos", mas o que oferece são desculpas esfarrapadas. Primeiro, implica com o Clube das Arcadas, que o XI de Agosto pretende construir no terreno ao lado do prédio. Logo ele, que brigou com o centro acadêmico quando era diretor da Faculdade de Direito. Rodas também não quer gastar com a manutenção do museu. Balela. Qual seria a dificuldade de captar recursos no mercado? Bancos adoram financiar a arte -algo "neutro", colorido, que não cria problemas e as pessoas acham chique, mesmo quando (ou porque) não entendem.
Na hora de criar fundações que propiciam ganhos externos aos docentes, a USP atua com desenvoltura. Quando se trata do acesso do público à cultura, age como uma típica repartição pública dos anos 1950 -"não dá". Para os burocratas encastelados no seu mundinho, de costas para a sociedade que os financia, nada dá. Não dá é para aguentar mais esse tipo de coisa.


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