São Paulo, domingo, 04 de setembro de 2011

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VALDO CRUZ

Refém da ousadia

BRASÍLIA - Ainda restam algumas dúvidas, mas a semana passada mostrou que o mix da política econômica parece realmente ter ganhado um novo rumo.
Enquanto Guido Mantega anunciou um reforço no ajuste fiscal, Alexandre Tombini comandou no BC a surpreendente decisão de cortar a taxa de juros.
Dois movimentos sincronizados, um amparando o outro, reforçando o que ambos repetiam desde o início do governo: a dupla Mantega/ Tombini joga afinada.
Sincronia que ganhou força pós-queda de Palocci. Sem a sombra incômoda do ex-chefe da Casa Civil, Mantega sentiu-se à vontade para assumir o papel de defensor de uma política fiscal austera.
Foi ele quem convenceu Dilma a cortar, de saída, R$ 50 bilhões no Orçamento. E, agora, economizar mais R$ 10 bilhões. Movimentos que surpreenderam, vindos de um desenvolvimentista.
Tombini, no BC, deixou claro que não seria uma continuidade da era Meirelles. Desde que assumiu, ele tomou decisões questionadas pelo mercado, aliviando a mão pesada sobre a política monetária.
Fez seu gesto mais ousado ao comandar a redução dos juros, na última quarta. Movimento de alto risco, fora do estilo conservador de banqueiros centrais. Se estiver certo, vira um visionário, aquele que não esperou a onda bater, se antecipou a ela. Se estiver errado, sua credibilidade fica arranhada.
Enfim, a ação coordenada de Mantega e Tombini agradou em cheio Dilma Rousseff, mas também transformou-a em sua refém. A guinada na política monetária não para em pé sem a manutenção do rigor fiscal, que a presidente tem prometido que irá bancar.
Aí residem as dúvidas. Sinais contraditórios do governo sugerem que Dilma pode abandonar sua promessa de rigor fiscal, aceitando mais inflação em vez de sacrificar um pouco de crescimento. A conta será debitada na sua popularidade. A história recente mostra isso.


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