São Paulo, domingo, 04 de outubro de 2009

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EMÍLIO ODEBRECHT

Voltando aos trilhos

AS FERROVIAS foram, desde sua criação no início do século 19, o meio de transporte por excelência das sociedades industriais.
Já na segunda metade daquele século, cerca de 5.000 km de trilhos espalhavam-se pelos EUA e 3.000 km pela Europa -não por acaso, as duas regiões de maior vigor econômico à época.
O Oeste dos Estados Unidos, em especial, foi conquistado economicamente pela pecuária e mineração e, logisticamente, pelos trens.
O Oeste de São Paulo também.
Desbravado pelos trilhos e pelo café, foi grande gerador de riquezas para o Brasil. Infelizmente, na segunda metade do século 20, o transporte ferroviário parou de receber investimentos em todo o país.
Hoje, nossa malha ferroviária, com cerca de 30 mil km, é pequena diante do tamanho do território.
Na verdade, somos uma exceção.
Nações de grande porte (como China, Rússia, Índia e EUA) têm nas ferrovias seu principal meio de transporte. O Brasil usa mais as rodovias, uma opção que praticamente sufocou outros meios.
Felizmente, desde a privatização do sistema ferroviário nacional, nos anos 90, esse modal vem recuperando força entre nós e, hoje, já responde por 21% do transporte de cargas. Urge, porém, que integremos vias férreas e portos de forma mais efetiva.
Um dos esteios da economia brasileira é a exportação de grãos e minérios, produzidos no interior do país. Mas é aos portos que tais commodities devem ser levadas para, dali, irem para o exterior.
Sendo assim, a integração entre vias férreas e regiões portuárias (Santos, Rio de Janeiro, Pecém, Suape, Tubarão etc.) é a melhor maneira de conferir sentido aos investimentos necessários para a ampliação da malha nacional.
Um problema das ferrovias brasileiras é a diferença de bitolas, que gera dificuldades de integração entre as linhas. A invasão da faixa de domínio dos trilhos por comunidades pobres é outro dilema do setor.
Atualmente, existem perto de 200 mil famílias carentes morando ao lado de ferrovias no país.
Uma decisão mais firme da sociedade brasileira no sentido de apostar nas ferrovias, que se traduza em mais recursos para a construção de linhas, será bem-vinda.
Implantar infraestrutura pressupõe altos investimentos, mas não fazê-lo custa um preço maior, que é o isolamento de partes inteiras do Brasil.
Trens, historicamente, transportaram homens, riquezas e ideias pelo interior das nações, contribuindo para sua coesão e seu desenvolvimento harmônico. É mais que hora de o Brasil voltar aos bons trilhos dessa tradição.


EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna.


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