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EMÍLIO ODEBRECHT
Voltando aos trilhos
AS FERROVIAS foram, desde
sua criação no início do século 19, o meio de transporte por excelência das sociedades
industriais.
Já na segunda metade daquele
século, cerca de 5.000 km de trilhos espalhavam-se pelos EUA e
3.000 km pela Europa -não por
acaso, as duas regiões de maior vigor econômico à época.
O Oeste dos Estados Unidos, em
especial, foi conquistado economicamente pela pecuária e mineração e, logisticamente, pelos trens.
O Oeste de São Paulo também.
Desbravado pelos trilhos e pelo café, foi grande gerador de riquezas
para o Brasil. Infelizmente, na segunda metade do século 20, o
transporte ferroviário parou de receber investimentos em todo o
país.
Hoje, nossa malha ferroviária,
com cerca de 30 mil km, é pequena
diante do tamanho do território.
Na verdade, somos uma exceção.
Nações de grande porte (como China, Rússia, Índia e EUA) têm nas
ferrovias seu principal meio de
transporte. O Brasil usa mais as rodovias, uma opção que praticamente sufocou outros meios.
Felizmente, desde a privatização
do sistema ferroviário nacional,
nos anos 90, esse modal vem recuperando força entre nós e, hoje, já
responde por 21% do transporte de
cargas. Urge, porém, que integremos vias férreas e portos de forma
mais efetiva.
Um dos esteios da economia brasileira é a exportação de grãos e minérios, produzidos no interior do
país. Mas é aos portos que tais
commodities devem ser levadas
para, dali, irem para o exterior.
Sendo assim, a integração entre
vias férreas e regiões portuárias
(Santos, Rio de Janeiro, Pecém,
Suape, Tubarão etc.) é a melhor
maneira de conferir sentido aos investimentos necessários para a
ampliação da malha nacional.
Um problema das ferrovias brasileiras é a diferença de bitolas, que
gera dificuldades de integração entre as linhas. A invasão da faixa de
domínio dos trilhos por comunidades pobres é outro dilema do setor.
Atualmente, existem perto de 200
mil famílias carentes morando ao
lado de ferrovias no país.
Uma decisão mais firme da sociedade brasileira no sentido de
apostar nas ferrovias, que se traduza em mais recursos para a construção de linhas, será bem-vinda.
Implantar infraestrutura pressupõe altos investimentos, mas não
fazê-lo custa um preço maior, que é
o isolamento de partes inteiras do
Brasil.
Trens, historicamente, transportaram homens, riquezas e
ideias pelo interior das nações,
contribuindo para sua coesão e seu
desenvolvimento harmônico. É
mais que hora de o Brasil voltar aos
bons trilhos dessa tradição.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta
coluna.
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