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FREDERICO VASCONCELOS
Peneiras e tapetes
OS ANALISTAS políticos poderão conferir nos próximos quatro anos se José
Serra e Aécio Neves, que acalentam
disputar a faixa presidencial em
2010, conseguirão desativar, em
seus governos, algumas minas tucanas que foram relegadas durante
esta campanha eleitoral.
Do lado mineiro, coube ao ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso, em carta ao PSDB, admitir que o partido tentou "tapar o sol
com a peneira" no caso do senador
Eduardo Azeredo. A referência remete ao esquema de financiamento eleitoral de tucanos e aliados em
1998, aproximando o episódio às
origens do mensalão.
Especula-se em Minas Gerais
que o recém-eleito senador Eliseu
Resende (PFL) pode vir a ocupar
uma secretaria no governo estadual, abrindo espaço para que o suplente, Clésio Andrade, vice-governador de Aécio, assuma o Senado.
Clésio foi sócio de Marcos Valério e é alvo de investigação sigilosa
na Justiça Federal por suspeita de
lavagem de dinheiro em operações
no Banco Rural -em dose menor,
mas semelhantes às do valerioduto. O Coaf chegou a citar "operações não usuais" entre a agência
SMPB, Clésio e Azeredo.
Do governo mineiro, Clésio Andrade já conseguiu a recente indicação de sua mulher para o cargo
vitalício de conselheira do Tribunal de Contas do Estado.
Do lado paulista, um Lula acuado
na campanha foi incapaz de cobrar
de Geraldo Alckmin a "operação-abafa" sobre a Nossa Caixa: as suspeitas de um "mensalinho" para favorecer deputados da base aliada
com publicidade do banco.
A demora na investigação do Ministério Público Estadual evitou
embaraços ao candidato Alckmin
-ou o privou de um atestado de
não-envolvimento nas graves irregularidades da Nossa Caixa.
"Ajustes verbais" permitiram às
agências Colucci e Full Jazz gastar
R$ 45,4 milhões sem contrato. Em
oito meses, na reeleição de Alckmin, foram consumidos R$ 28 milhões, verba publicitária do banco
prevista para durar 18 meses.
Depoimentos e documentos
apontam o uso político da publicidade de outras estatais, sob orientação do Palácio dos Bandeirantes.
A Sabesp só prestou informações
ao promotor do caso quando seu
superintendente se viu ameaçado
de processo por desobediência. A
CDHU mentiu ao negar ter anunciado na revista de um deputado
que cobrava preços superiores aos
praticados pelo mercado.
"Governar é escolher", repetiu
Alckmin na campanha em que acusou a gestão petista de esconder irregularidades debaixo do tapete.
Até 2010, o eleitor saberá se Aécio e
Serra abandonarão a peneira, estimulando o amplo esclarecimento
dos fatos, ou se preferirão mantê-los sob o tapete.
FREDERICO VASCONCELOS é repórter especial da
Folha.
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