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CARLOS HEITOR CONY
O poeta das Gálias
RIO DE JANEIRO - Comparado
ao Império Romano em seus tempos de glória, os Estados Unidos
mudam hoje o comando da guarda e
o resto do mundo acompanha com
interesse (ou preocupação) o novo
esquema de poder que de certa forma contaminará a economia mundial. Tal como no tempo dos imperadores de Roma, havia e há províncias esparsas que contestavam e
contestam o poder e a glória dos Césares de plantão.
Albert Uderzo e René Goscinny
criaram em 1959 uma história em
quadrinhos na qual uma aldeia gaulesa se rebela contra a globalização
romana. São personagens engraçados. O meu preferido é Chatotorix,
"o poeta mais chato das Gálias".
Após cada episódio, ninguém pode
evitar que ele tome a palavra e comente o que se passou.
Hoje é dia importante na vida do
império, e haverá Chatotorixes em
todos os quadrantes da Terra para
louvar ou chorar a vitória ou a derrota de Obama ou McCain. Pensando bem, do ponto de vista internacional, o resultado não mudará em
muita coisa a atual situação. Os Estados Unidos continuarão fazendo
o possível e o impossível para manter a hegemonia militar e econômica, tendo inclusive o argumento da
sua segurança ameaçada pelo terrorismo. Já se teme desde já um atentado de morte contra um dos candidatos, não por suas idéias, mas pelo
fato de ser negro.
A mídia mundial, em sua quase
compacta maioria, futebolizou a
disputa entre democratas e republicanos, na base de uma batalha do
bem contra o mal em termos absolutos. Se Obama vencer, o poeta fará odes retumbantes à vitória do
bem, cantará a nova era que se abre
não apenas para os Estados Unidos
mas para o mundo todo.
Em caso contrário, Chatotorix
chorará amargamente, atribuindo a
derrota à Ku Klux Klan, à CIA e ao
papa Bento 16.
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