São Paulo, quarta-feira, 04 de novembro de 2009

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ANTONIO DELFIM NETTO

Boa safra

2009, O ANO da "Grande Crise", já vai caminhando para o final, e nós, brasileiros (ao contrário da maioria dos povos do mundo), podemos contabilizar uma safra bastante razoável de boas notícias na economia: depois da imersão forçada no final de 2008 (e de continuar "fazendo água" no primeiro trimestre deste ano), a economia iniciou uma saudável recuperação e vai entrar 2010 crescendo com vigor.
Este é o dado que interessa: voltamos a crescer mais do que o mundo. "That's the point", dizem os "gringos": "Os caras deram a resposta menos esperada"... Como é natural, entre nós algumas pessoas desmerecem essa visão periférica e podem até ter razão: o conhecimento que se tem do Brasil lá fora é, obviamente, incompleto.
Esse desconhecimento só perde, às vezes, para o distanciamento que nós próprios mantemos a respeito de alguns problemas vitais deste nosso país-continente (ainda agropastoril) e da gente que o povoa e o faz caminhar para se tornar uma potência agroindustrial.
Quando o presidente Lula lançou solenemente, em junho, o Plano Agrícola e Pecuário para a Safra 2009/2010 -numa grande festa no Paraná-, imaginei que além da repercussão do momento iríamos assistir a um bom debate na mídia sobre os avanços ali anunciados e as dificuldades que o setor encontra para receber os benefícios prometidos. Continuamos, no entanto, observando um grande silêncio.
A importância dessa questão é "apenas" porque 2010 será decidido em grande parte pelo resultado da safra agrícola: se a economia vai continuar em festa ou se vai se juntar às lamentações do mundo em crise. Num desses climas vai-se determinar o nosso futuro político.
Por esses motivos relevantes é preciso enfrentar os problemas hoje.
O Papi -Plano Agrícola e Pecuário-, se cumprido, nos fará caminhar para uma política agrícola moderna e eficiente, que dará garantia de renda para os produtores.
Continua sem solução, por exemplo, a questão da dívida que os agricultores acumularam no passado devido à sinistra combinação da volatilidade de renda do setor com oportunísticas políticas de combate à inflação. A agricultura só se livrará desse pesadelo à medida que se puder amenizar a volatilidade da renda agrícola pelo desenvolvimento simultâneo do seguro e de instrumentos financeiros para travar os preços.
Há mais duas questões que devem ser enfrentadas. Uma é a do desrespeito frequente à instituição da propriedade privada, que tende a reduzir os investimentos na agricultura; a outra é a da relação desgastante entre a atividade agrícola e a conservação do meio ambiente.

contatodelfimnetto@uol.com.br


ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.


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