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ELIANE CANTANHÊDE
Descendo do palanque
BRASÍLIA - A gerentona Dilma
Rousseff gritava com ministros e
presidentes de estatais, que mais
de uma vez saíram chorando da
conversa. A candidata Dilma, repaginada, superou expectativas e superou a si própria ao enfrentar a TV
e os debates. A presidente eleita
Dilma vai se revelando aos poucos.
No conteúdo, ela avisa que será
cautelosa (ou conservadora) na política econômica, manterá o ritmo
das obras de infraestrutura e aumentará investimentos na saúde e
na segurança. Só surpreendeu até
agora na área externa, ao criticar a
"guerra cambial" entre os EUA e a
China, a parceira nos Bric que deixou de ser apenas "emergente" e
disputa a condição de potência.
Na forma, parece livre de um fardo, o da campanha. Desenvolta no
"Jornal Nacional", estava coloquial
na entrevista de ontem. Sorriu,
brincou com as "meninas da imprensa", acenou para os governadores e elogiou o telefonema "republicano" do tucano Alckmin.
Passada a eleição, para alívio geral, Dilma vive uma natural fase
"paz e amor", apesar de Lula não
resistir a Lula e continuar espezinhando Serra. Deus sumiu, é verdade, mas ela estende a mão aos adversários e enaltece a democracia.
A imprensa e os cidadãos devolvem
com boa vontade.
Esse clima -apelidado de "lua
de mel" -é tradicional na política
brasileira, mas não precisa exagerar. Dilma diz que não vai mexer no
câmbio flutuante e no superavit primário, e é uma festa. Diz que apedrejar Sakineh é "uma coisa muito
bárbara" e todo mundo: "Ohhhh!".
Peraí. Isso é o óbvio. Só faltava ela
mudar o câmbio e dar de ombros
para a sina terrível da iraniana, como chegou a fazer Lula.
A reação camarada, quase oba-oba, confirma que os problemas de
Dilma, no primeira momento, não
estão na imprensa, nos adversários
ou nos mercados. Estão nos aliados. É aí que se armam as bombas,
os "mensalões" e as Erenices que,
depois, explodem nas manchetes e
implodem o amor pelos governos.
elianec@uol.com.br
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