São Paulo, sexta-feira, 04 de novembro de 2011

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Dilema diplomático

Poderia ser definida como "guerrilha diplomática" a decisão das autoridades palestinas de buscar o reconhecimento a seu Estado em diversas agências da ONU -depois que a tentativa no órgão mais importante da entidade, o Conselho de Segurança, frustrou-se diante da oposição dos Estados Unidos, que já prometeram vetá-la.
O estratagema obteve resultado nesta semana, com a aceitação do Estado palestino como o 195º país-membro da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Foram 107 votos favoráveis à entrada -entre os quais o do Brasil- e 14 contrários, além de 52 abstenções.
A decisão já teve ao menos uma consequência prática: o bloqueio das verbas destinadas pelos EUA e por Israel à agência da ONU. No caso norte-americano, legislação do início dos anos 1990, acerca das condições em que o país pode fazer repasses a órgãos internacionais, determina o cancelamento automático -entre outros motivos, pelo fato de a Palestina não ser reconhecida pelas Nações Unidas.
Ao todo, a Unesco deve perder um quarto do orçamento (22% dos EUA e 3% de Israel), que gira em torno de US$ 300 milhões anuais. Não é a primeira vez que isso ocorre: os EUA já haviam abandonado a Unesco de 1984 a 2003, alegando corrupção e viés antiamericanista.
No plano da política interna dos EUA, o poderoso lobby judaico e a eleição presidencial em 2012 tornam o assunto mais delicado. Lembre-se que o presidente Obama já recuou depois de defender a solução de dois Estados nas fronteiras de antes da guerra de 1967.
Israel, por sua vez, além de cortar verbas, aproveita-se da situação para anunciar 2.000 novas construções em territórios ocupados.
Sem dúvida, é legítima a aspiração palestina ao reconhecimento de seu Estado. Por outro lado, EUA e Israel não parecem dispostos a recuar neste caso. Cria-se, assim, mais um impasse no infindável conflito entre as duas partes -que pode culminar, caso os palestinos levem a cabo o plano de pedir reconhecimento a outras 16 agências, na retirada quase total dos EUA da ONU.
Com todos os defeitos da entidade, é uma perspectiva indesejável, que fecharia as portas para um sistema internacional baseado no multilateralismo. E seria ingenuidade acreditar numa saída duradoura para o conflito do Oriente Médio sem a participação do país mais poderoso do mundo.


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