São Paulo, sexta-feira, 04 de novembro de 2011

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RUY CASTRO

Mais dois milhões

RIO DE JANEIRO - O simbólico heptabilionésimo habitante do planeta nasceu às 4 h da madrugada de segunda-feira nas Filipinas, e os efeitos se sentiram à distância. Poucas horas depois, os elevadores já pareciam mais apinhados, as filas de espera dos restaurantes, mais longas, e o trânsito, ainda mais impossível. Mas pode ter sido só impressão minha, porque, por acaso, eu estava em São Paulo nesse dia.
Não, não foi. Há gente à beça na praça, e nem sempre foi assim. Assisto a muitos DVDs de filmes dos anos 50 e 60 -brasileiros, franceses, italianos, passados no Rio, em Paris, Roma, Milão. São de um tempo em que as câmeras, de repente mais leves, deixaram os estúdios e saíram às ruas. A nouvelle vague, por exemplo, foi toda feita com externas. E o que se vê nesses filmes? Ruas quase vazias -pouca gente nelas e, em algumas, menos ainda automóveis. Quem conheceu tais cidades na época sabe que elas eram assim.
Essa constatação é relativa -um veterano dos anos 30 e 40 diria que as cidades de 20 anos depois, que hoje nos parecem tão amenas, já tinham ficado intoleráveis. Mas os dois grupos concordariam em que o ponto de saturação só começou de verdade a partir de 1965, quando, por vários motivos, o pessoal do campo passou a se mudar em massa para as cidades -e, com ou sem a pílula, continuou a se reproduzir nelas como no seu habitat original.
O resultado é que, hoje, há gente demais no mundo, o que não seria problema se, em vez de se empilharem aos milhões nos mesmos lugares, as pessoas se distribuíssem melhor. Espaço não falta, mas os governos não têm grande interesse por planejamento urbano. Desde que o heptabilionésimo bebê nasceu, há menos de 100 horas, outros dois milhões já vieram ao mundo. Nós os conheceremos em breve, de pé no chão e nariz escorrendo, e nos chamando de tios.


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