São Paulo, sexta-feira, 04 de novembro de 2011 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Prioridade ao pedestre, questão de civilidade MARCELO CARDINALE BRANCO
Algumas transformações sociais surgem de sentimentos coletivos latentes, quando as pessoas acabam concordando que certa medida é válida e justa para todos. Para nossa satisfação, o Programa de Proteção ao Pedestre está resgatando um desejo de civilidade em São Paulo. Os moradores da metrópole querem ser mais amigáveis e respeitosos no trânsito. Esse fenômeno é percebido quando vemos motoristas e pedestres "conversando" nas ruas e a partir dos resultados estatísticos. De 11 de maio, data do início do programa, até 30 de junho, o número de atropelamentos caiu 36,4% em relação ao mesmo período de 2010, no centro e na região da Paulista, áreas onde o programa começou. Foram duas mortes nesses locais, uma queda de 71% em comparação com 2010. Em toda a cidade, a queda foi menor, de 7,5%, mas já é um reflexo, apesar de a campanha ter se expandido para todos os bairros apenas no mês de agosto. Esses números estão longe de ser o ideal, já que o objetivo é a redução de metade das mortes por atropelamento, mas já sinalizam a mudança. E a população parece querer mais: 94,5% dos condutores e 88% dos pedestres concordaram com a fiscalização, segundo uma pesquisa da Companhia de Engenharia de Tráfego. Apesar de querer colaborar, motoristas e pedestres ainda estão confusos. A maioria dos condutores (95,5%) dizem respeitar a travessia do pedestre, mesmo que a prática mostre que falta muito. Educação é fundamental. Desse modo, estamos com cerca de 800 orientadores de travessia nas ruas, temos um canal aberto para as críticas da sociedade, iniciamos uma campanha publicitária e priorizamos a transparência na divulgação para a imprensa. Outra forma interessante adotada para chegar à sociedade é a parceria com grupos como o Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas, da Associação de Assistência à Criança Deficiente, ou o Sindicato dos Motoboys. Além disso, mudanças estruturais estão acontecendo. Uma queixa comum é a de que faixas de travessia estão apagadas ou mal localizadas. Nesse sentido, a CET já revitalizou 12 mil faixas e a sinalização em frente a 400 escolas. Outras soluções estão sendo testadas na prática, como o recuo da faixa de pedestre em pontos onde o motorista não tem visibilidade. Medidas paralelas também ajudam. É o caso da diminuição e da padronização de velocidades para o limite de 60 km/h em mais de 120 ruas e avenidas. Na disputa diária do trânsito, ainda se esquece das pessoas. Os veículos devem servir à mobilidade, mas é inaceitável que o pedestre (que somos todos) não possa circular com segurança. Hoje, no entanto, temos instrumentos para mudar isso, desde que o cidadão de São Paulo deseje "dar preferência à vida". MARCELO CARDINALE BRANCO, administrador de empresas, é secretário municipal de Transportes. Foi presidente da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) e secretário municipal de Infraestrutura e Obras. Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Gilson Schwartz e Guilherme Ary Plonski: Ocupe o digital Próximo Texto: Painel do leitor Índice | Comunicar Erros |
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