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ATAQUE AO CONTRIBUINTE
"Acho que todo cidadão
brasileiro deveria criar vergonha na cara e lutar contra isso". A
frase, que repelia a proposta de prorrogação da alíquota de 27,5% do Imposto de Renda da Pessoa Física, foi
proferida em 1999 por Luiz Inácio
Lula da Silva. Na ocasião, o governo
Fernando Henrique Cardoso procurava manter por mais dois anos o aumento do IR aprovado em 1997,
quando, sob efeito da crise asiática, a
alíquota máxima passou "transitoriamente" de 25% para 27,5%.
Contrariando ostensivamente o
que pregava seu líder, o PT aprovou
anteontem na Câmara uma nova
prorrogação do percentual. Já em finais de 2002, com Lula eleito, o partido havia apoiado a permanência da
alíquota até o final de 2003, dando
votos a um pacote tributário que ajudaria seu primeiro ano de governo.
Um clássico comentário a respeito
da mudança petista foi feito pelo senador Jutahy Magalhães (PSDB-BA):
"Nada é mais parecido com o governo do que a oposição no governo",
disse ele. Sintomaticamente, o PSDB
de Magalhães assumiu agora posição contrária à que defendia no governo, evidenciando que a incoerência não é monopólio petista. Registre-se que o PFL, mesmo aliado a
FHC, opôs-se sistematicamente a
aumentos no IR. Ainda que suas posições possam ter assumido, em alguns momentos, ares demagógicos,
ao menos a coerência foi mantida.
Ainda mais vexatória do que a mudança de posição do PT em relação à
referida alíquota é o fato de o partido
ter abdicado de suas propostas para
tornar o IR mais progressivo, o que
faria sentido, dentro de um projeto
amplo de reforma tributária. Diferentemente disso, o que o governo
Lula pretende sancionar é uma nova
investida não apenas contra o bolso
da classe média mas também -o
que é escandaloso- contra o do trabalhador de menor renda, pois se nega a corrigir o limite de isenção, de
R$ 1.058 mensais.
Novamente triunfa, portanto, a lógica "fiscalista", o ataque ao contribuinte com vistas a aliviar as contas
de mais um governo que não consegue imprimir um mínimo de racionalidade ao sistema tributário.
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